28 de janeiro de 2025
Esporte, educação e cidadania: como as políticas públicas podem mudar o Brasil
Sem políticas públicas eficientes, o esporte não muda vidas. O professor Ivan Tertuliano mostra qual é o papel do esporte no desenvolvimento humano.
Por Paulo Pinto / Global Sports
1º de fevereiro de 2025 / Curitiba, PR
O professor Ivan Wallan Tertuliano faz parte da nova geração de dirigentes esportivos que se destaca pelo alto nível de preparo acadêmico e pela visão inovadora da gestão esportiva. Com uma formação sólida, ele acumula títulos e experiência na área.
Pós-doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, mestre em Educação Física, Profissional de Educação Física (CREF 024313-G/SP), conselheiro do CREF4/SP, professor na Universidade Anhembi Morumbi e secretário de Relações Acadêmicas da Asemesp, nesta entrevista exclusiva à ProAtiva ele analisa a importância das políticas públicas esportivas para o desenvolvimento social e discute como o esporte pode atuar como ferramenta de transformação em diversas áreas, como saúde, segurança e educação.
Qual é o papel das políticas públicas esportivas na promoção do desenvolvimento humano em comunidades socialmente vulneráveis?
As políticas públicas desempenham papel fundamental no suporte às comunidades socialmente vulneráveis, sendo condição indispensável para o desenvolvimento integral dessas populações. Além do incentivo à prática esportiva, é essencial considerar o contexto socioeconômico dessas comunidades, nas quais muitas vezes a insegurança alimentar é uma realidade cotidiana.
Sem uma alimentação adequada, crianças e jovens não terão energia suficiente para dedicar-se ao esporte nem para concentrar-se nos estudos. Em muitos desses territórios, a prioridade é garantir o básico, pois uma nutrição adequada é o alicerce para o aprendizado escolar, esportivo e social. Dessa forma, as políticas públicas devem ser estruturadas de maneira ampla, garantindo condições dignas de vida e oportunidades reais de desenvolvimento em diversas esferas.
“A priorização do esporte nas políticas públicas não constitui gasto, e sim um investimento estratégico e transformador no futuro do Brasil.”
Quais estratégias poderiam ser priorizadas para maximizar os resultados dessas iniciativas?
Para potencializar os efeitos das políticas públicas voltadas ao esporte, é essencial que elas abordem as necessidades básicas das comunidades. Isso inclui a oferta de alimentação adequada, a criação de espaços seguros e estruturados para a prática esportiva e a qualidade da educação, garantindo escolas com aprendizado efetivo e sem carência de professores.
Nas periferias urbanas, praças e centros comunitários são frequentemente ocupados por atividades ilícitas, tornando esses espaços inacessíveis para jogos e esportes. Lembro-me de uma experiência marcante em uma ONG da Vila Bancária, Zona Leste de São Paulo, durante o projeto de extensão Volta ao Mundo em 80 Jogos, da Universidade Anhembi Morumbi. Enquanto pintávamos jogos no chão para as crianças, uma delas, ao terminar o almoço, disse: “Tio, eu vou repetir o prato, pois não sei se hoje terei comida em casa”.
Esse momento foi um divisor de águas para mim, pois evidenciou que qualquer política pública sem a devida atenção à alimentação é falaciosa. A nutrição adequada é um pilar essencial para que as crianças possam desenvolver-se de forma saudável e, consequentemente, participar ativamente das atividades esportivas.
Como o esporte pode atuar como um eixo transversal, beneficiando áreas como segurança pública, saúde, educação e assistência social?
O esporte é um eixo transversal porque impacta diversas áreas sociais ao mesmo tempo. Ele ensina regras, disciplina, respeito e cooperação, valores essenciais para a construção de uma sociedade mais equilibrada.
- Na segurança pública, o esporte atua como ferramenta preventiva, reduzindo a exposição e a vulnerabilidade de jovens ao crime.
- Na saúde, contribui para a prevenção de doenças crônicas e melhora a saúde mental.
- Na educação, melhora a saúde física dos alunos, resultando em melhor cognição e desempenho acadêmico.
- Na assistência social, funciona como um mecanismo de inclusão e acolhimento para diferentes faixas etárias.
Você pode citar exemplos práticos ou dados que ilustrem essa sinergia?
Vários projetos exemplificam essa integração bem-sucedida. O Instituto Baccarelli, o Instituto JB12 e o projeto Vida Corrida são referências em como o esporte pode transformar vidas, especialmente em comunidades de alto risco.
Jovens que passaram por esses institutos ingressaram na Universidade Anhembi Morumbi e hoje lideram iniciativas dentro da própria instituição, como o Centro Acadêmico de Educação Física e projetos sociais que consolidam o impacto positivo do esporte.
As políticas públicas para o esporte ficam sempre em segundo plano. Como reverter essa visão e mostrar que investir no esporte pode ser uma solução para problemas estruturais?
Pesquisadores citam que, para cada dólar investido em esporte, o retorno financeiro pode chegar a cinco dólares, considerando a redução de gastos somente em saúde e segurança pública.
Entretanto, a visão eleitoreira e de curto prazo dos gestores públicos atrapalha essa priorização. Para mudar essa realidade, é fundamental que o esporte seja tratado como política de Estado, e não de governo.
A Associação dos Secretários Municipais de Esporte e Lazer do Estado de São Paulo (Asemesp) é um exemplo de entidade que trabalha na capacitação de gestores esportivos, promovendo uma gestão mais profissional e focada no cidadão.
Como superar desafios como falta de orçamento, má gestão e descontinuidade de projetos devido à alternância de poder?
A solução passa pela criação de políticas públicas estáveis e bem estruturadas, que transcendam governos e ciclos eleitorais.
- Gestão profissionalizada → Redução de desperdícios e corrupção.
- Transparência e controle social → Fiscalização rigorosa dos investimentos.
- Articulação entre esferas de governo → Continuidade de projetos mesmo com mudanças políticas.
Conclusão
O professor Ivan Wallan Tertuliano reforça que o esporte deve ser reconhecido como política essencial para o desenvolvimento do País. Seja na educação seja na segurança pública ou na saúde, sua aplicabilidade vai muito além do lazer, impactando diretamente a qualidade de vida da população.
A priorização do esporte nas políticas públicas não é um gasto supérfluo, mas um investimento estratégico e transformador no futuro do Brasil, refletindo diretamente na saúde, educação e segurança da população.
Ivan Wallan Tertuliano
É pós-doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, mestre em Educação Física, Profissional de Educação Física (CREF 024313-G/SP), conselheiro do CREF4/SP, secretário de Relações Acadêmicas da Asemesp, e é professor na Universidade Anhembi Morumbi desde 2020.