Coletivas x coronavírus

Além de desconexas, as medidas restritivas não possuem embasamento científico © Danielle Cerullo

Se respeitarmos as medidas de segurança, com destaque ao distanciamento entre alunos, não existe diferença fisiológica na ruptura da homeostase causada pelas diferentes práticas de exercício físico

Por Cida Conti
20 de outubro de 2020 / Curitiba– PR

Confesso ter-me surpreendido com algumas regras estabelecidas para a reabertura das academias na pandemia. Claro que devo considerar as diferenças dos decretos estabelecidos nos diversos Estados e municípios de todo o País, mas a ideia principal aqui é discutir a proibição das aulas coletivas, ocorrida em boa parte da Federação.

A transmissão do coronavírus em ambientes de treinamento grupal ainda não foi amplamente pesquisada, mas um estudo da Coreia do Sul relata um grupo de alunos teoricamente infectado numa aula de ginástica. Talvez aí esteja o começo da confusão! De acordo com uma carta de pesquisa de especialistas em saúde do Dankook University Hospital and College of Medicine da Coreia do Sul, 112 pessoas foram infectadas com o vírus numa aula de ritmos – sendo a maioria (50,9%) dessas infecções do instrutor para os alunos.

Não podemos afirmar que as aulas de ginástica, por se tratar de atividade coletiva, possam facilitar a transmissão do vírus © Anupam Mahapatra

“As causas que podem ter levado à transmissão dos instrutores em Cheonan incluem aulas cheias, espaços pequenos e intensidade alta nos treinos”, dizem os pesquisadores. “A atmosfera úmida e quente na academia e a hiperventilação gerada pelos exercícios físicos intensos podem causar uma transmissão mais densa de gotículas isoladas.”

Eu diria que nem é preciso pensar muito para entender que, no caso acima, o contágio se deu certamente pela falta de distanciamento e ausência de medidas preventivas, e não pelo tipo de atividade realizada. Vejamos o quadro abaixo que mostra uma importante comparação:

De forma geral podemos entender que, na visão de quem estabelece as regras de reabertura das academias, o conceito de coletividade está mais relacionado à prescrição individual ou grupal de exercícios. Sendo assim, a prática de musculação numa sala ocupada por um número maior de alunos só não é considerada prática coletiva porque a prescrição dos exercícios é individual. Faz sentido?

Segundo o fisiologista e amigo Waldecir Lima, “se respeitarmos as medidas de segurança, com destaque ao distanciamento entre alunos, não existe diferença fisiológica na ruptura da homeostase causada pelas diferentes práticas de exercício físico, tanto no treinamento resistido (na sala de musculação) quanto no treinamento cardiorrespiratório (na sala de ginástica) – duas estratégias importantes e complementares no desenvolvimento da aptidão física do usuário de academia”.

Portanto, para concluirmos o texto, não podemos afirmar sob hipótese alguma, que as aulas de ginástica, por se tratar de atividade coletiva, possam facilitar a transmissão do vírus dentro do ambiente de uma academia que adote todas as medidas protocolares de segurança.

O distanciamento é a chave e, então, viva a ginástica!

Cida Conti (CREF 078160-G/SP) – Com 38 anos de atuação no mercado de fitness, já ministrou mais de mil cursos que denotam a sua grande paixão pela educação. Reconhecida como uma das melhores professoras de step do mundo, já deixou sua marca e conhecimento em 26 países e capacitou milhares de professores no mundo. Formada em Educação Física pela FIG (1983), pós-graduada em treinamento desportivo pela FMU (2001), foi eleita melhor professor de step do Brasil pela Associação Brasileira de Fitness (1993), instrutor do ano pela Fitness Brasil (1995) e melhor instrutor internacional FEDA / Espanha (1998). É diretora executiva da Escola Fitness e da Radical Fitness Brasil, além de conselheira do CREF4/SP