Seis cuidados no pilates para pessoas com autismo

Um ambiente organizado e sem muito barulho pode ajudar na manutenção da concentração no exercício © Divulgação

No Dia da Conscientização do Autismo, veja orientações para que indivíduos com transtorno do espectro autista aproveitem todos os benefícios da prática

Por GE / Globo
3 de abril de 2022 / Curitiba (PR)

No dia 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a seção Eu Atleta do Globo Esporte publicou importante artigo de Carolina Hart Rodés, fisioterapeuta formada na USP, com especialização em pilates pelo método Pilates Postura Funcional®.

A condição afeta principalmente a tríade socialização, comunicação e padrões de comportamentos e interesses, com sinais mais claros a partir dos 2 anos, e possui um grande espectro de “autismos”. O Transtorno do Espectro Autista é um diagnóstico em crescimento hoje em dia e, apesar de ter fatores genéticos, sua manifestação está fortemente associada a aspectos epigenéticos, o que reforça ainda mais a importância da conscientização do autismo em si, do diagnóstico precoce e das necessidades e possibilidades de cuidado.

Os benefícios do uso do pilates para pessoas com autismo já são evidentes e podem compor como parte da reabilitação ou como prática de cuidado com a saúde de forma mais longitudinal, sempre de forma coordenada e em conjunto com uma equipe multiprofissional. Porém, alguns cuidados são essenciais para que a prática possa ser aproveitada. Veja seis deles.

1 – PREPARO DO AMBIENTE

Atente-se aos estímulos sensoriais excessivos e potencialmente aversivos, como sons muito altos, local muito barulhento ou com barulho de conversas paralelas ou iluminação muito forte. Um ambiente desorganizado e com grande circulação de pessoas também pode ser mais desconfortável e dificultar a concentração.

2 – COMUNICAÇÃO VERBAL E NÃO VERBAL

Ao conversar, mantenha o contato visual, colocando-se diante do indivíduo. Lembre-se de que os comandos verbais devem ser claros e objetivos, com tom de voz sereno, e procure realizar gestos suaves nas orientações e correções dos exercícios.

3 – FAMILIARIZAÇÃO

O profissional deve ter consciência da necessidade e processo de familiarização do paciente com o próprio profissional, com o local, com os exercícios, com o toque de correção utilizado… Enfim, com tudo o que for novo e que possa gerar um estranhamento inicial.

Pode ser importante apresentar os objetos, ferramentas e aparelhos que serão utilizados, por exemplo. Ou, com os próprios exercícios, introduzir as variações e novos movimentos gradualmente.

Os benefícios do uso do pilates para pessoas com autismo já são evidentes e podem compor como parte da reabilitação ou como prática de cuidado com a saúde de forma mais longitudinal © Patrícia Prudente / Unsplash

4 – ROTINA

Alterações excessivas de rotina, como mudanças de horário ou dia ou trocas constantes de profissional, também podem ser desorganizadoras e/ou incomodar uma pessoa dentro do espectro autista.

É claro, nem tudo é previsível ou constante, mas reforçar os cuidados de avisos com antecedência, conhecer a organização da rotina do paciente e gradualmente apresentar toda a equipe são pontos de atenção que facilitam a adaptação ou o preparo dela.

5 – BUSCAR ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR A ATENÇÃO E QUEBRAR MOVIMENTOS ESTEREOTIPADOS

Como instrutor de pilates, é possível utilizar recursos da própria aula para ampliar o repertório motor do praticante e, assim, contribuir para modular ou modificar comportamentos motores atípicos.

Pode-se explorar o direcionamento da atenção, incorporar objetos ou os próprios exercícios para quebrar padrões estereotipados.

6 – E, MAIS IMPORTANTE: CONHEÇA SEU PACIENTE!

O espectro autista é muito diverso e, por isso, compreender que cada indivíduo é particular na sua personalidade, comportamento e necessidades é essencial.

Converse com ele e com a família, conheça seus gostos e desgostos, interesses e desinteresses. Avalie e compreenda a individualidade de cada paciente com autismo para que possa conduzir uma prática adequada ao seu momento de desenvolvimento social, faixa etária, possibilidades e necessidades.

Sabemos que o pilates pode contribuir para melhorar a qualidade de vida de pessoas com autismo, com o treino de movimentos com fluidez e precisão, que desenvolve a consciência e controle da respiração, promove sensação de ritmo, usa os exercícios para interação e sustentação da atenção e concentração, estimula a integração sensorial e promove melhora da postura e consciência corporal. Mas nada disso pode ser atingido se não houver o cuidado adequado com a individualidade desse praticante.

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