Sedentarismo vs. inatividade física: conceitos similares ou distintos?

Sedentarismo e inatividade física são conceitos totalmente distintos © Mor Shani / Unsplash

Muitos profissionais da saúde ainda utilizam o termo “sedentarismo” erroneamente. Saiba o significado correto e não tenha mais dúvidas

Por Ana Elisa Messetti Christofoletti
20 de outubro de 2020 – Curitiba (PR)

Por muito tempo o termo sedentarismo confundiu-se com inatividade física, mas são conceitos totalmente distintos. A inatividade física caracteriza-se por uma pessoa não atingir as recomendações de atividade física, por exemplo: 150 minutos por semana de atividade física moderada para adultos. Já o comportamento sedentário, ou sedentarismo, refere-se a atividades praticadas em posições sentada, deitada e/ou reclinada, com baixo gasto energético (1 a 1,5 METs. 1 MET = taxa metabólica em repouso). Ou seja, atividades como estudo, trabalho sentado, tempo diante de tela, entre outras similares.

É importante dizer que dormir até nove horas por dia para adultos não é considerado comportamento sedentário, mas o excesso disso sim. A partir de estudos estabeleceu-se mais de duas horas sem pausa como excesso de tempo sedentário.

Diversos artigos e matérias de revistas utilizam/utilizavam o termo sedentarismo como sinônimo de inatividade física. Um exemplo disso é que muitos estudos para verificar o nível de atividade física, no momento de descrever os resultados, diziam “os participantes apresentam um alto nível de sedentarismo” quando, na verdade, deveriam dizer “os participantes são inativos fisicamente”.

Nesse sentido, quando os estudiosos começaram a discutir as diferenças entre sedentarismo e inatividade física, os pesquisadores da área começaram a utilizar o termo “comportamento sedentário”. Assim, quando alguém lê esse termo consegue ter mais segurança de que o pesquisador sabe exatamente sobre o que está escrevendo.

Mas ainda resta a pergunta: é possível ser fisicamente ativo e ter alto nível de comportamento sedentário? A resposta é sim. Um exemplo disso são as pessoas que passam o dia todo trabalhando sentadas, mas que praticam em média uma hora de atividade física moderada a vigorosa todos ou quase todos os dias da semana. E o contrário também pode ocorrer. Um balconista de loja, por exemplo, fica o dia todo em pé e tem baixo nível de comportamento sedentário, mas não atinge os níveis de atividade física recomendados.

Os dois cenários são desfavoráveis e cada um deles resulta em prejuízos à saúde de forma independente. O segundo cenário representa a inatividade física e as consequências disso já são bastante discutidos na literatura. Já o primeiro caso apresenta um alto nível de comportamento sedentário e isso pode para contribuir para baixa autoestima, obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, trombose, estresse, depressão e alteração muscular.

No mundo atual sabemos que muitas pessoas gastam boa parte do tempo em comportamento sedentário. É normal ficar mais de duas horas sentado sem pausas. Entretanto, a boa notícia é que é possível diminuir os riscos desse comportamento. As dicas são: diminuir o tempo de tela, utilizar o transporte ativo, praticar atividade física e/ou exercício físico, fazer pausas durante o comportamento sedentário (levantar-se, alongar-se), passear com o animal de estimação, fazer algum trabalho doméstico ou qualquer outra atividade que envolva um gasto calórico acima dos níveis de repouso.

Os profissionais e professores de Educação Física necessitam saber diferenciar o comportamento sedentário da inatividade física para poder mostrar os prejuízos que o excesso desse comportamento pode causar. E, ainda, recomendar que os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), clientes e alunos façam quebras do tempo sentado, além de praticarem atividade física regularmente.

Ana Elisa Messetti Christofoletti
Bacharela e licenciada em Educação Física (Unesp, Rio Claro – SP), mestre em ciências da motricidade (Unesp, Rio Claro – SP), doutoranda em ciências da motricidade (Unesp, Rio Claro – SP), professora substituta do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) – campus Sertãozinho e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas na Profissão de Educação Física (GEPPEF) – Unesp, Rio Claro – SP