Que tal avançarmos efetivamente com a regulamentação da Educação Física?

A regulamentação de uma profissão é essencial para qualquer área em que se queira a evolução do serviço prestado para a sociedade em termos de qualidade e segurança © Pixabay

Uma reflexão lúcida sobre a pauta da sessão desta quarta-feira (20) na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, na qual se discutirá o PL 2.486/2021, já aprovado na Câmara dos Deputados

Por Cristiano Parente
17 de abril de 2022 / Curitiba (PR)

A regulamentação de uma profissão é essencial para qualquer área em que se queira a evolução do serviço prestado para a sociedade em termos de qualidade e segurança. Medicina, direito, engenharia etc. já passaram por isso e evoluíram muito nas décadas posteriores. Isso representa uma vitória tanto para os profissionais com qualificação acadêmico-científica quanto para a sociedade consumidora.

O início de qualquer regulamentação passa por discussões, reclamações, alinhamentos, dúvidas etc., o que é normal, natural e saudável para o processo. Hoje ninguém vai a um pseudomédico sem CRM, porque não confia sua vida a qualquer um; nem compra um apartamento num prédio feito por um suposto engenheiro sem CREA, para não colocar sua família num lugar que possa cair. Da mesma forma, ninguém deve colocar seu corpo para fazer movimentos e esforços em situações acima das intensidades regulares e comuns do dia a dia sem a orientação e supervisão de um Profissional de Educação Física, graduado e especializado em manter o indivíduo saudável, longevo, lúcido e autônomo.

Então, este recado vai para os excelentíssimos senadores, responsáveis pela condução do processo: contamos com sua lucidez ao fazer uma leitura óbvia, racional, lógica e científica da situação, para ratificar o reconhecimento da profissão de Educação Física e de seus respectivos profissionais, áreas de estudo e campos de atuação, pois o caminho que a sociedade definiu como corretos em outras profissões deve ser o mesmo em relação à prática da Educação Física.

Quanto à questão da Educação Física escolar, não me parece errôneo o enorme avanço que é ter especialistas atuando e ensinando nossas crianças na disciplina. Eu iria além, dizendo que seria um enorme avanço em todas as disciplinas da grade curricular. Pessoas com domínio profundo e especialistas em suas áreas, além de terem obviamente mais conhecimento sobre os respectivos temas, são muito provavelmente mais apaixonados pelas áreas, e com uma tendência clara a enxergar a importância e a aplicação de suas matérias e conhecimentos para a sociedade.

O raciocínio é simples e elementar: é muito bom ter um superprofissional no ensino escolar, na figura do professor que domina as questões didáticas e pedagógicas. O ponto levantado é de raciocínio e lógica sobre uma escolha que, enquanto sociedade, podemos fazer. O que é melhor: concentrar conteúdos de nove ou dez disciplinas num único professor no ensino fundamental ou ter especialistas em cada uma das áreas do conhecimento e neles desenvolver a didática e a pedagogia? Em resumo, ensinar dez matérias de diversas áreas para um só professor ou acrescentar uma só qualificação aos especialistas?

Como a qualidade e a profundidade do processo ensino/aprendizagem podem chegar mais longe e com mais conteúdos? Será que “um pouquinho de tudo” está bom? Que fique claro: em nenhum momento isto é um desmerecimento de nós, professores da educação básica. Muito ao contrário. É apenas uma reflexão sobre para onde devemos ou não ir, tendo em vista uma análise clara, dura mas real, do mercado. Será que nós mesmos não podemos ser os primeiros a querer revolucionar a educação para então cobrarmos valorização e reconhecimento? Será que nós mesmos não podemos e devemos estudar mais, nos aprofundarmos e nos graduarmos mais, para então oferecer à sociedade uma “nova educação”, menos politizada, mais científica, moderna, interessante e eficiente?

Claro que precisamos de melhores condições, mas que tal apresentarmos novas ideias e projetos para a sociedade, de maneira coletiva, unida, coesa, e em cima disso pedir investimentos, condições, valorização?

Será que quando olhamos para o lado não encontramos alguns de nós cansados, desmotivados, que não estudam nem se atualizam há décadas, que só esperam o tempo passar para bater o cartão e ir embora?

Vamos começar mudando nosso comportamento?

Cristiano Arthur Scanavacca Parente (CREF 4017-G/SP) é professor e coach de Educação Física, eleito em 2014 o melhor personal trainer do mundo em concurso promovido pela Life Fitness. Ele é também CEO da World Top Trainers Certification e conselheiro do CREF4/SP.