Qual receita queremos para o futebol profissional no Brasil: a do caos ou a da solução?

Ou paramos para pensar como queremos o futebol, ou vamos acabar destruindo a maior manifestação cultural da humanidade © Wavebreakmedia / Depositphotos

Este artigo não é sobre um time, até porque erros no esporte acontecem e afetam todos os envolvidos. Nossa análise aqui recai sobre a postura amadora, e até mesmo juvenil, de jogadores e dirigentes.

Por Cris Parente
18 de maio de 2024 / Curitiba (PR)

Abordaremos dois assuntos neste artigo. O primeiro: é simplesmente ridículo jogadores de futebol fingirem faltas, cavarem pênaltis e simularem agressões, ou agredirem e esbravejarem que não fizeram absolutamente nada.

Mesmo à luz do dia e diante das câmeras de TV, tecem dezenas de falácias e terceirizam a culpa de seus atos para os árbitros, alegando de maneira falsa e mentirosa que não sabem o que está acontecendo com a arbitragem aqui no Brasil. Ou ainda: um cara que aprendeu a jogar “football” com as mãos cai de paraquedas aqui no país do futebol e diz que “a Inteligência Artificial detectou um movimento não costumeiro, por isso ele foi prejudicado”. Desculpe, mas quem estudou um pouquinho sobre o esporte e outro pouquinho sobre IA logo percebe a infantilidade desta “prova irrefutável”.

Leia com atenção: não estou dizendo que não possa haver corrupção no esporte, e sim que, se há, que sejam entregues provas reais das acusações e não ilusões infantis sem nenhuma base. Gente que fica feliz – ou fica quieto – quando seu time é beneficiado por um erro não tem direito de ficar bravo quando acontece um erro contra. Isso é hipocrisia pura.

Em segundo lugar, estamos num momento em que a tecnologia (ainda em desenvolvimento inicial) expõe a tremenda dificuldade que é observar todos os detalhes de uma partida de futebol, ainda que tenhamos dezenas de câmeras gerando imagens e recursos cada vez mais sofisticados.

Então, que tal falarmos de maneira adulta sobre o tema?

Imaginando a melhor intenção do mundo da arbitragem, é humanamente impossível acreditar que um ser, correndo no meio de 22 jogadores com preparo físico e genética esportiva extraordinários, consiga ter clareza e acertar todas as avaliações de lances muitas vezes subjetivos e sujeitos a regras pouco claras e imprecisas. Sem falar na pressão da torcida, equipes, dirigentes e, principalmente, de uma mídia que descobriu que causar polêmica vende mais do que defender a correção do jogo,

O sistema de arbitragem do futebol está totalmente ultrapassado, e tanto a mídia quanto os clubes vivem crucificando os árbitros. Basta haver um único “reizinho” em campo com poder de fazer o que quiser.

Isso nunca vai dar certo porque, primeiro, o juiz não consegue ver tudo mesmo e também porque os interesses são enormes e muita coisa está em jogo.

Segundo, com toda pressão em cima dele, o juiz, fazendo esforço físico intenso, e ainda tendo de tomar decisões rápidas e importantes sozinho, com toda responsabilidade apenas sobre as suas costas, a chance de errar até em lances fáceis é altíssima.

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Terceiro é que o jogo em si guarda muitas subjetividades, e a regra é ultrapassada, muito mal feita, pois a diretoria de arbitragem da FIFA não busca minimizar as regras para facilitar a clareza do jogo.

Quarto: como em qualquer sistema passível de tentações da corrupção, concentrar todas as decisões e tudo do jogo numa pessoa só fragiliza e torna o processo muito menos confiável.

Quinto: com o espaço que tem dentro do esporte, grande parte de amadores da mídia (que mais parecem fofoqueiros e não estão preparados para lidar com o produto futebol) descobriu que viver da falha do produto dá mais lucro e audiência. Permitir a entrada de profissionais sem ética no esporte só vai fazer o produto se desvalorizar. São pessoas que, tendo acessos importantes e direitos de divulgação dos jogos, o fazem sentando a lenha, colocando em dúvida a qualidade, fazendo carnaval em cima de coisas que causam rebuliço no jogo, já que eles vivem disso.

Ou paramos para pensar como queremos o futebol, como entretenimento e atividade profissional, nas mãos de quem é profissional da área mesmo, ou vamos acabar destruindo a maior manifestação cultural da humanidade.