Psicologia como Pauta: CRP-PR de portas abertas para comunicadores fortalece diálogo e qualifica a informação pública

Tonio Luna, Carla Slongo e Gabriel Gomes de Luca © CRP-PR

Encontro inédito aproximou jornalistas, profissionais de comunicação e o Conselho Regional de Psicologia do Paraná, criando uma agenda permanente de diálogo, acolhimento e responsabilidade social.

Por CRP-PR
Curitiba, 20 de novembro de 2025

Na semana passada, o Conselho Regional de Psicologia do Paraná realizou o primeiro evento da recém-criada Coordenação de Comunicação Social, idealizado pela presidente da área, Carla Chemure Cechelero Slongo (CRP- 08/20727). O encontro, intitulado “Psicologia como pauta: CRP-PR de portas abertas para comunicadores”, foi organizado para jornalistas, assessores, produtores de conteúdo e demais profissionais da imprensa — um gesto institucional raro e profundamente alinhado à missão social da Psicologia.

A conselheira-secretária Marina Pires Alves Machado Sfreddo © CRP-PR

A mediação ficou sob responsabilidade de Karen Sailer Kletemberg, assessora de imprensa do CRP-PR, que conduziu o encontro com segurança, sensibilidade e com elevado domínio técnico. Karen articulou transições claras, criou um ambiente acolhedor e garantiu que cada etapa do encontro fluísse com naturalidade — qualidade decisiva para que as discussões ganhassem profundidade e sentido.

Comunicação como serviço público e cuidado com quem cuida

A conselheira-secretária Marina Pires Alves Machado Sfreddo (CRP-08/10216) abriu o evento destacando a importância da comunicação como ponte direta entre a Psicologia e a sociedade. Em uma fala acolhedora e profundamente humana, reconheceu que a imprensa desempenha um papel essencial na orientação da população sobre temas sensíveis — especialmente diante de crises, emergências e situações de sofrimento psíquico.

Os palestrantes Tonio Luna, Carla Slongo e Gabriel Gomes de Luca respondem às perguntas dos jornalistas presentes © CRP-PR

Marina ressaltou que “a comunicação forte é, também, uma forma de cuidado”, pois ajuda a população a compreender processos emocionais, a buscar ajuda qualificada e a reconhecer que muitas vivências são comuns e não precisam ser enfrentadas sozinhas.

Ao mesmo tempo, ela direcionou um olhar cuidadoso aos próprios profissionais da comunicação:

“Vocês vivem sob pressão constante, trabalham sem horário, lidam com tragédias e urgências que deixam marcas profundas. O CRP-PR está de portas abertas — também para vocês.”

Karen Sailer Kletemberg, assessora de imprensa do CRP-PR, que conduziu o encontro © CRP-PR

A conselheira reforçou que o Conselho quer conhecer a realidade da imprensa, oferecer suporte quando necessário e construir uma relação técnica e humana com jornalistas, comunicadores e criadores de conteúdo.

Informação responsável, ética e ciência — o alerta da Psicologia

A primeira palestrante foi Carla Slongo, presidente da Coordenação de Comunicação Social do CRP-PR, que apresentou uma análise firme, técnica e profundamente atual sobre os desafios contemporâneos da comunicação em saúde mental — um diálogo indispensável para tempos tão complexos.

O professor doutor e pesquisador Gabriel Gomes de Luca iniciou sua exposição reconhecendo que discutir fake news e desinformação é enfrentar um fenômeno amplo e complexo © CRP-PR

Carla iniciou parabenizando e nomeando todos os profissionais da comunicação do Conselho, reforçando que a equipe está empenhada em modernizar, inovar e conferir densidade científica ao modo como o CRP-PR se apresenta ao público. Sua fala abordou temas essenciais:

COMBATE ÀS PSEUDOCIÊNCIAS

Carla foi categórica ao denunciar o avanço de discursos não científicos — muitos deles travestidos de orientações emocionais, terapias rápidas ou promessas de autoconhecimento — que proliferam sem critério nas redes sociais. Para ela, trata-se de um fenômeno perigoso, que mistura empirismo, improviso e desinformação, criando no imaginário coletivo a falsa impressão de que “fazer psicologia” é simplesmente dar conselhos, repetir frases motivacionais ou interpretar comportamentos com base em achismos. Sem formação, sem pesquisa e sem compromisso com a ciência, esses conteúdos fragilizam o debate público e impactam diretamente a saúde mental da população.

Carla Slongo, presidente da Coordenação de Comunicação Social do CRP-PR

Com precisão técnica, ela reforçou a urgência de combater os chamados “falsos psicólogos”, que atuam livremente no mercado, oferecendo atendimentos sem qualquer habilitação legal ou preparo profissional. Carla lembrou que essa prática configura não apenas exercício irregular, mas um risco concreto à vida das pessoas — que acabam buscando ajuda justamente em momentos de maior vulnerabilidade emocional. Por isso, recomendou que jornalistas, comunicadores e cidadãos verifiquem sempre o Cadastro Nacional da Psicologia e denunciem casos suspeitos ao Conselho, fortalecendo a ética profissional e o direito da população a um atendimento seguro e qualificado.

O psicólogo Tonio Luna iniciou sua participação ressaltando a relevância do tema Saúde Mental de Comunicadores © CRP-PR

O RISCO DO EMPIRISMO E DA DESINFORMAÇÃO

A conselheira destacou que, em tempos de consumo acelerado de conteúdo, as pessoas se apoiam em respostas rápidas e superficiais, sem senso crítico. “A velocidade das redes não pode substituir o rigor da ciência.” Ela enfatizou que, quando a imprensa não consulta fontes especializadas, reforça equívocos que podem aumentar o sofrimento das pessoas.

Gabriel de Luca pontuou que não é possível discutir desinformação sem considerar a polarização política © CRP-PR

Com contundência, ela criticou o uso da IA como substituto de psicoterapia. “A IA pode acessar teorias, mas não lê expressões, não reconhece nuances, não sustenta um processo clínico. A clínica é humana.”

O alerta foi claro: a tecnologia pode — e deve — apoiar processos de comunicação e de cuidado, mas jamais substituir o trabalho do Profissional de Psicologia ético, regulamentado e formado para compreender a complexidade humana. Ferramentas digitais oferecem agilidade, mas não captam contextos, sutilezas emocionais, linguagem corporal ou fenômenos subjetivos que somente a atuação presencial, técnica e responsável pode assegurar.

Marina Sfreddo, Gabriel Gomes de Luca, Carla Slongo, Tonio Luna, Gilberto Gaertner e Lara Frasson © CRP-PR

PSICOLOGIA E IMPRENSA CAMINHANDO JUNTAS

A coordenadora de Comunicação Social defendeu que o CRP-PR e os veículos de comunicação precisam atuar lado a lado:

  • para qualificar o debate público
  • para orientar a população
  • para reduzir danos emocionais
  • para divulgar boas práticas
  • para fortalecer a defesa dos direitos humanos

O professor doutor Gilberto Gaertner, presidente do CRP-PR, reforçou a importância estratégica do encontro © CRP-PR

Ela lembrou que emergências e desastres exigem comunicação sensível, técnica e responsável, e que psicólogos especialistas devem ser consultados para orientar condutas e cuidados.

Carla Slongo encerrou sua fala com um apelo direto. “O CRP-PR está de portas abertas para apoiar vocês e também para que nos ajudem a levar informação de qualidade à sociedade. A comunicação e a Psicologia precisam caminhar de mãos dadas.”

Encontro inédito aproximou jornalistas, profissionais de comunicação e o Conselho © CRP-PR

Saúde mental dos comunicadores e a exaustão invisível

O psicólogo Tonio Luna iniciou sua participação ressaltando a relevância do tema Saúde Mental de Comunicadores — uma preocupação que, segundo ele, surgiu após observar de perto o ritmo exaustivo e a falta de reconhecimento que marcam o cotidiano de jornalistas, repórteres, editores e profissionais de mídia. “Criam pautas, levam pautas, cobrem pautas e, no meio disso tudo, mudam a pauta”, afirmou, destacando que essa dinâmica caótica raramente permite que esses profissionais cuidem de si mesmos.

Lara Frasson, conselheira e membro da Coordenação de Comunicação do CRP-PR, durante sua participação no encontro © CRP-PR

Tonio contou que sua própria história começou na televisão ainda na infância, o que, para ele, ampliou a sensibilidade sobre os impactos emocionais da exposição pública, da correria e da pressão por performance. Hoje psicólogo clínico, também trabalha com teatro e humor — ferramentas que, segundo ele, ajudam a compreender a vida com leveza e contemplação.

Os palestrantes demonstram comprometimento e responsabilidade ao responder às perguntas formuladas pelos jornalistas durante o encontro © CRP-PR

A SOBRECARGA COMO REGRA, NÃO EXCEÇÃO

Ele provocou o público com uma pergunta direta: “Será que os profissionais da comunicação têm tempo para descansar, meditar ou simplesmente respirar?” — apontando que a sobrecarga emocional e a falta de limites são condições frequentemente naturalizadas nessa área.

Ana Paula Silva, repórter da RPC, faz pergunta aos palestrantes durante o encontro © CRP-PR

Ao compartilhar dados obtidos por meio de ferramentas digitais, Tonio alertou: 67% dos profissionais da comunicação se encontram sobrecarregados. Para ele, essa exaustão se relaciona com a ideia equivocada de que precisamos “dar conta de tudo”, o que cria uma busca impossível por suficiência. Ele chamou esse ciclo de “Síndrome do Coelho da Alice” — estar sempre atrasado, correndo atrás de algo que nem se sabe exatamente o que é.

Tonio também destacou o impacto da solidão profissional e da sobrecarga emocional silenciosa, afirmando que muitos comunicadores não encontram espaço para dividir suas angústias.

Ricardo Medeiros, jornalista da Fiocruz, faz pergunta aos palestrantes durante o encontro © CRP-PR

IMPORTÂNCIA DE SE RECONECTAR COM PERGUNTAS, NÃO COM RESPOSTAS

Recorrendo a autores como Tomie Ohtake, Eduardo Galeano e Rainer Maria Rilke, o psicólogo lembrou que a vida não é feita apenas de respostas rápidas, mas de perguntas profundas — e que a curiosidade, quando preservada, funciona como proteção emocional. Galeano, citou ele, dizia que “as coisas mais interessantes da vida deram certo porque tudo que planejei deu errado”, uma perspectiva que Tonio usou para alertar sobre a rigidez das expectativas e o esgotamento que elas provocam.

Ao abordar o conceito de superego cruel, Tonio ressaltou que muitos profissionais vivem em permanente autocrítica, acordando já com um “tribunal interno” ativo — um fator que ele considera amplificador do sofrimento psíquico na comunicação.

Elaine Secchi Biancardi, psicóloga, participa do encontro e dirige sua pergunta aos palestrantes © CRP-PR

Ele concluiu reforçando que cuidar da saúde mental dos comunicadores é urgente, pois esses profissionais lidam com pressões extraordinárias, exposição constante, contato diário com tragédias e responsabilidades profundas — e, ainda assim, raramente são convidados a olhar para si mesmos.

Desinformação, fake news e impactos psicológicos das redes sociais

O professor doutor e pesquisador Gabriel Gomes de Luca iniciou sua exposição reconhecendo que discutir fake news e desinformação é lidar com um fenômeno vasto, que atravessa desde a geopolítica mundial até as conversas rotineiras dentro de casa. É um tema estruturalmente complexo, multifacetado e impossível de ser compreendido em sua totalidade — mas, ainda assim, urgente.

Aline Reis, jornalista do Plural e presidente do Sindijor, faz pergunta aos palestrantes durante o encontro © CRP-PR

Diante de uma plateia formada majoritariamente por jornalistas, Gabriel direcionou o foco para elementos que podem oferecer contribuições práticas tanto ao campo da psicologia quanto à comunicação profissional. Para tanto ele apresentou três conceitos fundamentais:

DESINFORMAÇÃO: conteúdo falso, distorcido ou descontextualizado produzido deliberadamente para beneficiar um grupo e prejudicar o outro;

FAKE NEWS: formato já consagrado internacionalmente, que mistura entretenimento, política e manipulação emocional;

DESORDEM INFORMACIONAL: quando o volume, a velocidade e a fragmentação dos conteúdos ultrapassam a capacidade humana de processamento.

Fabiano Kloterman, jornalista do O Luzeiro, participa do encontro e apresenta sua pergunta aos palestrantes © CRP-PR

Ao analisar a estrutura das redes sociais, Gabriel destacou que elas produzem uma sensação permanente de exigência e ansiedade. No Instagram, por exemplo, o fluxo desordenado — um post sobre alimentação, seguido de política, seguido de economia, seguido de memes — cria a ilusão de que precisamos ter opinião sobre tudo, o tempo todo. Essa dinâmica, segundo ele, não só adoece como também fragiliza o julgamento crítico, abrindo espaço para engajamento emocional impulsivo.

Gabriel de Luca pontuou ainda que não é possível discutir desinformação sem considerar a polarização política, que funciona como combustível para a circulação de conteúdos falsos. Muitos exemplos clássicos citados por ele evidenciaram como tanto informações totalmente falsas quanto informações verdadeiras deslocadas de contexto podem ser usadas estrategicamente para manipulação.

O psicólogo Tonio Luna apresenta sua palestra durante o encontro © CRP-PR

Concluindo sua fala, o professor alertou que o “ecossistema do engajamento”, presente em todas as plataformas, é desenhado para acionar gatilhos emocionais — e, quanto mais intensos, maior a circulação, a polarização e o engajamento gerado. Para profissionais da comunicação, isso exige vigilância permanente, responsabilidade ética e uma compreensão profunda do impacto psicológico dessas dinâmicas.

Práticas que preservem a verdade

A fala do professor Gabriel encerrou o ciclo de apresentações com uma mensagem direta: não existe cobertura jornalística responsável sem compreensão dos mecanismos psicológicos e tecnológicos que moldam a desinformação.

Carla Slongo ressalta que a desinformação afeta diretamente a saúde mental da população e demanda respostas éticas e responsáveis das instituições © CRP-PR

Assim como a saúde mental e a ética — temas trazidos pelas psicólogas Marina Sfreddo e Carla Slongo — a integridade informacional é parte indissociável do compromisso social da comunicação.

Juntos, os três palestrantes demonstraram que psicologia e jornalismo não podem mais caminhar em trilhas paralelas: a complexidade do mundo contemporâneo exige diálogo constante, colaboração e a construção de, protejam o público e promovam bem-estar de quem produz e de quem consome informação.

Diálogo institucional e compromisso social

O professor doutor Gilberto Gaertner, presidente do CRP-PR, encerrou o ciclo de palestras saudando os profissionais presentes e reforçando a importância estratégica daquele encontro. Em suas palavras, destacou a satisfação do Conselho em abrir suas portas à imprensa e inaugurar uma nova fase de aproximação institucional:

“É um grande prazer recebê-los aqui na sede do Conselho para o primeiro evento de uma série organizada pela nossa equipe de comunicação. Retomar o diálogo com a imprensa do Paraná é fundamental, e tenho convicção de que juntos podemos desenvolver inúmeras ações em prol da sociedade — ações consistentes, éticas e verdadeiramente transformadoras.”

O professor doutor Gabriel Gomes de Luca afirma que as fake news operam como fenômenos complexos e estruturados, exigindo análise técnica e rigor científico para sua compreensão © CRP-PR

Gaertner aproveitou o momento para apresentar ações emergenciais conduzidas pelo CRP-PR em Rio Bonito do Iguaçu, município devastado por um tornado.

“Estamos realizando um trabalho essencial no atendimento à população e acabamos de firmar uma parceria com a Defesa Civil para ampliar esse apoio. É papel do Conselho estar presente onde a sociedade mais precisa de nós.”

Tonio Luna destaca que combater a desinformação exige fortalecer vínculos sociais e promover espaços de diálogo qualificado © CRP-PR

O dirigente concluiu parabenizando a Coordenação de Comunicação pela iniciativa e reforçando o caráter acolhedor da instituição. “Parabéns à comunicação pela organização deste encontro. Fico feliz em reencontrar aqui amigas e amigos da imprensa e profissionais da nossa área. Sintam-se sempre muito bem-vindos à sede do CRP-PR.”

Encerramento com interação intensa e qualificada

Após o coffee break, o encontro ganhou uma das etapas mais ricas da manhã: a abertura para perguntas dos jornalistas. A troca foi intensa, espontânea e altamente produtiva, com questionamentos que ampliaram os temas discutidos e aprofundaram reflexões sobre ética, responsabilidade comunicacional, saúde mental e desafios da contemporaneidade.

Esse diálogo direto — plural, crítico e acolhedor — consolidou o propósito do evento: aproximar o Conselho dos profissionais da comunicação, construir pontes e reafirmar que a Psicologia e a imprensa podem, juntas, produzir impacto social profundo.

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