Educação física inclusiva: um direito de todos

É importante compreender que a inclusão é um processo que envolve pessoas © Arisa Chattasa

A formação pedagógica do professor de educação física vem sendo colocada em plano secundário, prevalecendo os conteúdos das disciplinas de cunho técnico-desportivo, corporal e biológico, em detrimento das disciplinas pedagógicas

Por Flávio Henrique Corrêa
20 de outubro de 2020 / Curitiba (PR)

O que seria uma Educação Física Inclusiva, que oportuniza vivências e experiências corporais a todos, independentemente de condição física ou cognitiva, onde de fato todos poderiam participar?

Esta questão nos acerca, principalmente, quando se trata de pessoas com deficiência, pois a Educação Física vem historicamente atendendo a objetivos diversos, ora se constituindo numa prática tradicional e excludente, ora numa prática preocupada com a inclusão de todos nas atividades pedagógicas. Para atender a estes objetivos educacionais propostos pela sociedade, no sentido de oferecer “educação para todos”, a Educação Física tem realizado uma reflexão em torno da problemática da “educação inclusiva”, por meio de debates, produções científicas e propostas pedagógicas. Entretanto, há um caminho longo a ser percorrido para que o ideal de uma Educação Física Inclusiva se concretize no interior de nossas escolas.

A educação física como prática educativa não pode estar isolada do movimento de luta por uma educação verdadeiramente democrática © Divulçação

A educação física como prática educativa, seja ela desenvolvida no âmbito da educação formal ou em outros espaços sociais, não pode estar isolada do movimento de luta por uma educação verdadeiramente democrática. Logo, faz-se necessário discutir as peculiaridades desta prática diante do desafio da educação inclusiva, bem como considerar os diferentes aspectos e fatores que interagem no âmbito educacional no sentido de limitar a implantação do trabalho pedagógico voltados para a inclusão de todos.

Segundo Aguiar e Duarte (2005), culturalmente, a formação pedagógica do professor de educação física vem sendo colocada em plano secundário, prevalecendo os conteúdos das disciplinas de cunho técnico-desportivo, corporal e biológico, em detrimento das disciplinas pedagógicas. Sendo assim, a formação vem privilegiando o desenvolvimento de capacidades e habilidades físicas, que tem por prioridade o desempenho físico, técnico e o corpo enquanto objeto de consumo.

Tendo essa visão como base, focada na cultura desportiva e competitiva, entendemos que as resistências com relação à inclusão de pessoas vistas como menos capazes fisicamente são históricas. Muitas das proposições de atividades feitas em educação física, realizadas na base da cultura competitiva, podem ser observadas nas escolas. A prática desportiva, quando usada sem os princípios da inclusão, é uma atividade que não favorece a cooperação, que não valoriza a diversidade e que pode gerar sentimentos de satisfação e de frustração. Essa cultura competitiva constitui uma fonte de exclusão e pode se consistir numa barreira à educação inclusiva.

Professor Flávio Henrique Corrêa © Divulçação

Vale ressaltar que o planejamento do programa de educação física, adequado ao projeto político-pedagógico, deve ocorrer respeitando os princípios do desenvolvimento humano e as características próprias das pessoas com deficiência. É necessário que o professor realize adaptações nos recursos físicos, materiais e nele próprio, amparadas em conhecimentos científicos, a fim de possuir as condições necessárias para trabalhar neste contexto, valorizando o cultivo de atitudes de dignidade, de respeito próprio, de respeito às diferenças e de respeito às limitações da pessoa com deficiência, conforme preconiza os parâmetros curriculares nacionais – Educação Física (BRASIL, SEF, 1998; PCN/SEF, 2000). Mas é fundamental que a comunidade escolar esteja convencida do importante papel da educação física nesse processo, para que, ao desenvolver seus conteúdos, ela seja parte do compromisso que toda a escola está assumindo.

É importante também compreender que a inclusão é um processo que envolve pessoas. Por isso nunca podemos afirmar que existe um modelo de inclusão que vai ser o ideal para todas as pessoas em todos os lugares. Entender que o que vai dar qualidade e promover cada processo de inclusão é o esforço coletivo em refletir bastante e profundamente, propor e apoiar ideias inclusivas e ter coragem de colocá-las em prática, assumindo os riscos de errar, mas tendo sempre a disposição de aprender com os erros, e a partir daí criar novas práticas.

Portanto, a educação física muito tem a contribuir neste processo através de suas práticas, rompendo as barreiras do preconceito, promovendo a integração e oportunizando o acesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer e acima de tudo à atividade física democraticamente.

Professor Flávio Henrique Corrêa (CREF 006284-G/SP) mestrando em Ciências da Saúde aplicadas ao
Esporte e Atividade Física (UNIFESP); especialista em Atividade Física Adaptada e Saúde; educador
esportivo no atendimento a PcDs e grupos especiais do município de Barueri (SP); técnico de natação
paralímpica nível II pelo Comitê Paralímpico Brasileiro; membro pesquisador da Academia Paralímpica
Brasileira; professor do curso de graduação em Educação Física (Faculdade FECAF) e
pós-graduação em Natação e Esporte Adaptado (FEFISO e USCS); membro do grupo de
pesquisa em Neurometria Funcional da FEF/UNICAMP; e membro da comissão
especial de paradesporto do CREF4/SP e profissional delegado.