Diretoria do CRP-PR é acusada de favorecer a Chapa 12 na eleição para a gestão 2025/2028

Favorecimento à Chapa 12 contamina eleição do CRP-PR © Divulgação

Uso escancarado da máquina pública expõe tentativa da atual diretoria do CRP-PR de manipular as eleições em favor da Chapa 12, levantando sérias dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral.

Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 31 de julho de 2025

As eleições para a próxima gestão do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) ocorrerão de forma online entre os dias 23 e 27 de agosto. Para participar do processo eleitoral, os profissionais da psicologia precisam estar com seus cadastros atualizados e adimplentes até 6 de agosto.

No entanto, o processo eleitoral, que deveria refletir a pluralidade de ideias e a democracia institucional, tem sido comprometido por denúncias graves de uso da máquina pública em benefício de um único grupo: a Chapa 12 — “Frente em Defesa da Psicologia”. Diversas evidências indicam que essa chapa vem sendo favorecida de forma escancarada pela atual diretoria do CRP-PR.

Mensagem-convite enviada por Sérgio Bezerra, conselheiro e candidato da Chapa 12, utilizando o grupo institucional de WhatsApp do CRP-PR para articulações eleitorais — prática que fere os princípios de impessoalidade e isonomia exigidos pelo processo eleitoral © Divulgação

No dia 27 de junho, o conselheiro Sérgio Bezerra Pinto Júnior — membro da atual gestão e integrante da Chapa 12 — utilizou o “Grupo de Coordenadores de Cursos de Psicologia” para divulgar um convite institucional à criação de uma comissão de coordenadores de curso. A iniciativa, feita por um representante oficial do CRP-PR, evidencia de forma contundente o uso da estrutura da autarquia federal para articulações político-eleitorais às vésperas da eleição.

“Trata-se de uma diretoria que, durante todo o mandato, se manteve distante das Instituições de Ensino Superior (IES), sem dialogar com os cursos e sem apresentar propostas concretas à formação profissional.”

Trata-se de uma diretoria que, durante todo o mandato, se manteve distante das Instituições de Ensino Superior (IES), sem dialogar com os cursos e sem apresentar propostas concretas à formação profissional. O repentino movimento de aproximação, feito a menos de dois meses do pleito, expõe de maneira cristalina o uso indevido da estrutura do Conselho com finalidades eleitorais.

Como se não bastasse, o CRP-PR também anunciou um evento oficial na cidade de Maringá, intitulado “Encontros entre a Formação e a Prática da Psicologia”, no qual um dos palestrantes será justamente o conselheiro Sérgio Bezerra. O oportunismo é evidente: o evento está sendo promovido pelo Conselho, com verba e estrutura da autarquia, mas tem entre seus protagonistas um candidato da Chapa 12. Não há como negar a instrumentalização do aparato público em favor de um grupo político, em flagrante prejuízo às demais chapas.

Convite para o evento “Encontro entre a formação e a prática da psicologia”, promovido com estrutura oficial do CRP-PR e protagonismo de membro da Chapa 12, colidindo frontalmente com o regimento eleitoral ao utilizar recursos institucionais para fins político-eleitorais © Divulgação

A conduta é gravíssima. A estrutura pública de um conselho profissional não pode, em nenhuma hipótese, ser usada como palanque eleitoral, sob pena de comprometer toda a lisura do processo e ferir os princípios constitucionais de impessoalidade e moralidade administrativa.

Todas as evidências desta denúncia, incluindo os registros das comunicações feitas por Sérgio Bezerra e os materiais de divulgação institucional utilizados em benefício da Chapa 12, estão disponíveis e podem ser consultadas nesta reportagem.

Comissão Eleitoral

Diante do uso escancarado da máquina pública, é urgente que a Comissão Eleitoral do CRP-PR se manifeste. O silêncio institucional sobre esse tipo de irregularidade pode ser interpretado como conivência ou, no mínimo, omissão diante de um atentado à equidade do processo democrático.

Convite eleitoral disparado por Sérgio Bezerra via e-mail institucional do CRP-PR, evidenciando o uso da estrutura da autarquia federal em benefício da Chapa 12 © Divulgação

Espera-se que os membros da Comissão Eleitoral, nomeados para garantir a legalidade, a isonomia e a transparência do pleito, assumam suas responsabilidades. A ausência de medidas corretivas e de um posicionamento firme colocará sob suspeita toda a eleição e abrirá precedente perigoso para práticas autoritárias em conselhos profissionais.

Críticas à atual gestão: distanciamento, omissão e paralisia institucional

O CRP-PR vem sendo alvo constante de críticas por parte da categoria. A atual gestão é acusada de ter se afastado dos profissionais da psicologia, negligenciado o diálogo com a sociedade e falhado na missão de valorizar a atuação da categoria no estado.

Há inúmeras denúncias de omissão em casos de infrações éticas, falta de fiscalização efetiva do exercício profissional e ausência de políticas públicas consistentes que projetem a importância da psicologia para o bem-estar social. O Conselho, que deveria ser uma entidade promotora, reguladora e defensora da profissão, tem sido apontado como um órgão inerte, burocrático e distante da realidade dos psicólogos.

Relação oficial dos membros da Chapa 12, composta por integrantes da atual diretoria do CRP-PR — entre eles o conselheiro Sérgio Bezerra, acusado de utilizar a estrutura institucional em benefício do próprio grupo © Divulgação

A denúncia mais grave, contudo, recai sobre a instrumentalização política da entidade. A estrutura do CRP-PR — que pertence à categoria e deveria servir de forma equânime a todos os profissionais — tem sido apropriada por um grupo específico como plataforma eleitoral. Faltam propostas, faltam projetos, falta compromisso real com a valorização da psicologia. O que sobra é oportunismo.

Quando a ética se curva ao oportunismo, a democracia institucional se desfaz

O que se vê no Conselho Regional de Psicologia do Paraná é o retrato de um projeto de poder disfarçado de gestão. Uma diretoria que durante três anos ignorou sistematicamente as instituições de ensino e os anseios da categoria, agora se movimenta com pressa e com propósito claro: perpetuar-se no comando por meio da Chapa 12, utilizando todos os meios — inclusive os ilegítimos.

A falta de propostas e de realizações concretas dá lugar à manipulação da máquina pública, ao aparelhamento das estruturas institucionais e ao uso indevido da visibilidade concedida pelo cargo. Quando um conselheiro que disputa a reeleição promove eventos oficiais com verba e estrutura do próprio Conselho, a fronteira entre ética e abuso deixa de existir. Isso não é gestão democrática, é fraude moral.

Composição da atual diretoria e do plenário do CRP-PR, responsável pela condução da entidade durante o triênio 2022–2025 © Divulgação

Espera-se da Comissão Eleitoral o compromisso inegociável com a lisura do processo. Diante de tantas evidências, sua omissão deixaria de ser apenas negligência — passaria a representar conivência com os abusos e legitimação do desequilíbrio.

A psicologia paranaense merece mais. Merece um Conselho que represente todos os profissionais, não apenas um grupo que se apropria do espaço institucional para se manter no poder. Que este alerta chegue aos psicólogos e psicólogas do Paraná como um convite à reflexão: o voto consciente é o único antídoto contra a deterioração das instituições.