Crise interna leva 12 conselheiros a renunciarem em massa do CREF17/MT

Alegando quebra de confiança e desrespeito à história da entidade, 12 conselheiros renunciaram aos cargos durante reunião plenária neste sábado (22). No comunicado oficial, eles denunciam manobras de bastidores e uma mudança abrupta no modelo de eleição da diretoria, rompendo com os princípios que nortearam a chapa vencedora.

Por Paulo Pinto / Fonte Nilson Aranha / MTEsporte
Curitiba, 23 de março de 2025

O Conselho Regional de Educação Física da 17ª Região (CREF17/MT), principal órgão responsável pela fiscalização e valorização da profissão no estado de Mato Grosso, sofreu um abalo significativo neste sábado (22), durante a 57ª Reunião Plenária Ordinária, realizada na sede da entidade, em Cuiabá.

Durante a sessão, 12 conselheiros efetivos apresentaram renúncia coletiva aos cargos, alegando descontentamento com a condução da atual diretoria, eleita em novembro de 2024. A decisão pegou de surpresa a categoria profissional e abriu uma crise sem precedentes na estrutura do conselho.

Segundo informações preliminares, a ruptura foi motivada por divergências quanto à condução do processo eleitoral interno e ao rompimento de acordos estabelecidos anteriormente à posse. Os conselheiros que se desligaram — todos profissionais com reconhecida trajetória na Educação Física e no esporte mato-grossense — divulgaram uma nota pública à categoria e à sociedade explicando os motivos da renúncia em bloco.

Antes do episódio, o CREF17 já havia registrado outras três baixas em seu plenário: os conselheiros Adilson Reis Filho e João Schnoor haviam deixado seus cargos por motivos pessoais, enquanto o conselheiro Cid dos Anjos faleceu, deixando uma lacuna na composição do colegiado.

A expectativa agora é de que o CREF17/MT se manifeste oficialmente sobre o impacto da saída coletiva e informe quais medidas serão adotadas para garantir a continuidade da governança da entidade e a recomposição de seu plenário.

Fabiane Vívian de Moraes Martins, presidente do CREF17/MT © Facebook

A seguir, a íntegra da carta de renúncia coletiva entregue pelos conselheiros:

RENÚNCIA COLETIVA

Ao Conselho Regional de Educação Física da 17ª REGIÃO – CREF 17/MT

GESTÃO 2025-2028

No dia de hoje, 22 de março de 2025, durante a 57ª Reunião Plenária Ordinária, formalizamos e entregamos à diretoria, nossa renúncia coletiva do cargo de Conselheiros do Conselho Regional de Educação Física da 17ª Região – CREF 17/MT, Gestão 2025-2028.

Compartilhando assim a nossa decisão com todos os profissionais de Educação Física do Estado de Mato Grosso, baseados na lealdade e no compromisso coletivo que sempre tivemos com a melhoria e o fortalecimento da Educação Física em nosso estado.

Infelizmente, após as eleições realizadas em 11 de novembro de 2024, onde a *CHAPA 1 – ESTRATÉGIA, INOVAÇÃO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL* foi a única chapa registrada e eleita com o apoio dos profissionais que foram as urnas, composta por 20 Conselheiros Titulares e 08 Suplentes, e durante a eleição da diretoria ocorreram fatos que nos levaram a tomar essa difícil decisão.

A chapa foi construída com base em um acordo coletivo, delegando ao Prof. Edson Luís Manfrin presidente a época, passamos a ele a representação perante a Comissão Eleitoral e a condução dos processos administrativos e legais necessários.

No entanto, após a posse dos Conselheiros no dia 17 de dezembro de 2024, durante a Plenária Ordinária para a eleição da Diretoria do CREF 17, houve uma mudança inesperada no processo. Ao invés de seguirmos o modelo consensual de eleição por chapa, que sempre foi adotado desde a criação do CREF 17 em 2015, foi proposta uma eleição de cargo a cargo. Com essa mudança consideramos quebra de confiança, foi articulada por um grupo de Conselheiros que já estavam pré determinados a conquistar a direção do CREF, alegando que precisavam ocorrer mudança e renovação, porém não tiveram a disposição de organizar a sua própria chapa e concorrer publicamente com essa tese, aguardaram em silêncio o fim das eleições e atuaram conjuntamente no momento da decisão da diretoria. Ganharam a presidência e todos os outros cargos por uma votação de 12 a 08.

Diante desses fatos, após reflexões e análises, entendemos que não é mais possível continuar como membros deste colegiado. A falta de reconhecimento ao trabalho dedicado de ex-conselheiros e ex-dirigentes, que investiram tempo, recursos e esforços para construir a estrutura que o CREF 17 possui hoje, tornou insustentável nossa permanência. Não podemos compactuar com atitudes que desrespeitam a história e os valores éticos que sempre nortearam o Conselho, não podemos naturalizar e concordar com procedimentos que deixam dúvidas quanto o futuro da nossa instituição.

Em respeito a todos os profissionais de Educação Física do Estado de Mato Grosso, decidimos renunciar coletivamente aos nossos cargos. Agradecemos a confiança de todos os colegas que estiveram conosco nessa jornada e foram às urnas votar na nossa chapa.

Assinam esta carta em solidariedade ao Prof. Edson Luís Manfrin e em defesa da ética e da lealdade:

• Edson Luís Manfrin
• Allan Kardec Benitez
• Antônio Duarte de Figueiredo Neto (Renúncia 2 de janeiro de 2025)
• Caroline Maria de Lima
• João Batista de Andrade (João Balla)
• João Batista Borges
• Newton Fiorenza
• Riller Riverdito
• Nilson James (Aranha)
• Harvey Brizola
• Marcelo Cruz
• Marcos Natanael

Anteriormente a este movimento outros dois conselheiros já tinham renunciado e justificaram questões pessoais, sendo eles Adilson Reis Filho e João Schnoor.

Crise exige respostas claras do CREF17/MT

A saída coletiva de 12 conselheiros eleitos compromete gravemente a legitimidade da atual gestão do CREF17/MT e expõe uma crise institucional que não pode ser minimizada. Como autarquia pública federal, financiada por contribuições obrigatórias dos profissionais registrados, o Conselho tem o dever de atuar com transparência, respeito aos princípios da moralidade administrativa e prestação de contas contínua à categoria.

A ruptura interna revela falhas graves de governança e evidencia a urgência de um reposicionamento ético por parte da diretoria recém-empossada. A ausência de diálogo, a quebra de acordos e a apropriação oportunista de cargos compromissados em consenso não apenas desestabilizam a entidade — colocam em xeque a credibilidade de todo o sistema que deveria zelar pelo bom exercício da Educação Física.

Diante disso, cabe à diretoria se manifestar com objetividade, apresentar um plano institucional de recomposição do colegiado e esclarecer os fatos à luz do interesse público. O silêncio ou a tentativa de esvaziar a gravidade do ocorrido apenas aprofundarão a desconfiança instalada. A sociedade e os profissionais de Educação Física de Mato Grosso merecem respostas — e vigilância ativa.