10 de outubro de 2025
A visita às duas principais arenas esportivas do Paraná integra a agenda da nova gestão do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), voltada para aproximar a Psicologia da vida pública e reconhecer boas práticas de acolhimento desenvolvidas por outras instituições.
Na manhã de quinta-feira (16), a equipe de comunicação do CRP-PR visitou o Estádio Major Antônio Couto Pereira, casa do Coritiba Foot Ball Club, para conhecer de perto uma iniciativa pioneira no futebol brasileiro: o Camarote de Acomodação Sensorial, espaço especialmente projetado para receber pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Carla, Dandara, Elyse e Lara representam a força de uma Psicologia que escuta, observa e constrói novas formas de presença no esporte © CRP-PR
Participaram das visitas as conselheiras de Comunicação Carla Chemure Cechelero Slongo (CRP 08/20727) e Lara Frasson (CRP 08/33121), além de Karen Sailer Kletemberg, assessora de imprensa. A equipe foi recebida por Dandara Messias, gerente do espaço, e por Elyse Matos — advogada (LL.M. em Direito Francês, Europeu e do Comércio Internacional pela Université Paris II), com especialização em Direito Financeiro pela mesma instituição; certificada em Empreendedorismo e Inovação pelo programa Ignite da Stanford University, coordenadora nacional do programa de treinamento parental da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Autism Speaks; filantropa e fundadora do Instituto Ico e do ICO Project.
No Couto Pereira, o CRP-PR conheceu o Camarote Sensorial, idealizado pelo Coritiba Foot Ball Club em parceria com o Instituto Ico — o primeiro espaço permanente do país voltado a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em estádios de futebol.

Elyse Matos a filantropa, fundadora do Instituto Ico e criadora do Camarote Sensorial do Coritiba © CRP-PR
Elyse Matos explicou que o ambiente “foi projetado para minimizar estímulos sonoros e visuais e garantir uma experiência segura e participativa a torcedores autistas e seus familiares. A iniciativa reafirma que acessibilidade é uma condição essencial da cidadania.”
“O projeto nasceu do desejo de proporcionar aos torcedores autistas uma experiência segura e acolhedora durante as partidas. O ambiente, que comporta até 14 pessoas, foi cuidadosamente planejado para minimizar os impactos causados por sons, ruídos e estímulos visuais excessivos, garantindo o direito à convivência e à cidadania por meio do esporte.”

Dandara Messias, gerente do Camarote Sensorial do Coritiba © CRP-PR
A iniciativa, lançada em 2022, consolidou o Couto Pereira como o primeiro estádio do país a oferecer um espaço de inclusão sensorial permanente. Desde o início, o Instituto Ico assumiu a coordenação das normas de funcionamento e a gestão dos atendimentos, levando ao estádio a mesma filosofia humanista e científica que norteia suas ações clínicas e sociais.
Inspirado na trajetória pessoal de Emiliano e Elyse Matos, pais do Enrico — carinhosamente chamado de Ico —, o Instituto nasceu do amor e da busca por soluções que promovessem o desenvolvimento de crianças e adultos com autismo. A entidade se tornou referência nacional ao implantar no Brasil, em 2018, o Caregivers Skills Training (CST), programa de ensino parental da Organização Mundial da Saúde (OMS), e ao inaugurar, em 2021, o ICO Project, centro de desenvolvimento que alia inovação, ciência e sensibilidade.

Camisa com o símbolo do autismo, leiloadas após as partidas, o que reforçou o engajamento social em torno da causa © CRP-PR
“Apresentamos o projeto ao clube, que imediatamente abraçou a causa”, recorda Elyse Matos. “Para a concretização desse sonho contamos com o apoio do Instituto Neymar Jr. e de diversas empresas que fizeram doações significativas. O Coritiba também produziu camisas com o símbolo do autismo, leiloadas após as partidas, o que reforçou o engajamento social em torno da causa.”
Para Elyse, a essência do projeto é garantir acesso. “O camarote é um espaço de acessibilidade, não de cuidado. O acompanhante é responsável pelo manejo e pela integridade da pessoa autista, dos demais e do local. Nosso papel é assegurar que o torcedor autista — seja criança, jovem ou adulto — possa viver plenamente a experiência do futebol.”
“Para o CRP-PR, a experiência no Couto Pereira abre um novo campo de diálogo entre a psicologia e a sociedade, mostrando que a presença do psicólogo nas políticas públicas deve transcender os consultórios, alcançando também espaços públicos e de convivência coletiva.”
Durante a visita, a conselheira de Comunicação do CRP-PR, Carla Slongo, destacou a importância de compreender o espaço como exercício de cidadania e inclusão, mais do que uma intervenção clínica. Ao questionar Elyse sobre a presença de profissionais de comportamento ou supervisores no local, ouviu uma explicação ancorada na legislação vigente.
“O que a Constituição, a Convenção da Pessoa com Deficiência e a LBI determinam é o direito à saúde, ao lazer e à vivência plena”, explicou Elyse. “Acessibilidade não é tratamento, é oportunidade de participação. Não podemos atrelar um direito social a uma obrigação clínica.”

Carla Chemure Cechelero Slongo, conselheiras de Comunicação do CRP-PR
Para Carla, a experiência no Couto Pereira abre um novo campo de diálogo entre a Psicologia e a sociedade, mostrando que a presença do psicólogo nas políticas públicas deve transcender os consultórios e alcançar espaços públicos e de convivência coletiva.
“Iniciamos com essa visita um movimento simbólico e inspirador”, afirmou. “Queremos compreender como iniciativas como a do Coritiba podem servir de modelo para aeroportos, shoppings, terminais e outros ambientes de grande circulação. É papel da Psicologia apoiar e estimular políticas que tornem a vida das pessoas mais acessível, humana e justa.”

Lara Frasson, Elyse Matos e Carla Slongo expressam o papel sensível e transformador da Psicologia no ambiente esportivo © CRP-PR
Para a conselheira Lara Frasson, o Camarote Sensorial do Coritiba segue como exemplo concreto de empatia aplicada à prática social — um gesto que une esporte, cidadania e compromisso com o bem-estar coletivo.
“Nossa avaliação é que o modelo do Coritiba viabiliza a vivência coletiva com apoio ao torcedor autista e seus cuidadores. É uma resposta concreta à pergunta: como tornar o estádio mais humano e inclusivo?”

Até nas paredes, o tempo narra a transformação: o futebol aprendendo a incluir, passo a passo, com consciência e propósito © CRP-PR
No Club Athletico Paranaense, a equipe de comunicação do CRP-PR foi recebida por Luiz Alberto Kuster, vice-presidente do Conselho Administrativo do clube e vice-presidente do Conselho Deliberativo da Fundação Athletico Paranaense (Funcap); por Rubens Neves, diretor executivo da Funcap; por Isabela Gasparin Escorsim, psicóloga da Clínica Rama; e por Thiago Escorsim, diretor-proprietário da Clínica Rama. Paulo Bober Paulino, estagiário de Comunicação do CRP-PR, também integrou o grupo durante a visita.
Kuster apresentou a atuação da Fundação, destacando como principal objetivo as escolinhas de futebol, por meio das quais são atendidas 30 mil crianças, 70% em formato social, com bases também na Venezuela e na África. “Foi a Fundação Athletico Paranaense que criou esta Sala Multissensorial, com a ajuda de vários parceiros”, explicou o dirigente.

Diante da Sala Multissensorial do Athletico Paranaense, gestores e profissionais reafirmam o compromisso de tornar o esporte um espaço cada vez mais humano e acessível © CRP-PR
Segundo Rubens Neves, o espaço é destinado a crianças e adultos neurodivergentes e permanece à disposição de todas as pessoas que estejam na arena em dias de jogos ou de espetáculos. Inaugurada em junho, a Sala Multissensorial é idealizada pela Fundação Athletico Paranaense e tem o atendimento técnico e especializado conduzido pela Clínica Rama, que promove autorregulação por meio da redução de estímulos do ambiente e da criação de experiências controladas.
Localizada no setor Brasílio Itiberê Inferior, próximo à curva do setor Cel. Dulcídio Inferior, a sala tem capacidade para 10 pessoas.

Luiz Alberto Kuster evidencia, em sua fala, a importância de alinhar gestão, sensibilidade e propósito nas iniciativas que unem esporte e inclusão © CRP-PR
Rubens Neves reforçou o princípio norteador do projeto: não transformar a sala em um camarote exclusivo para pessoas neurodivergentes.
“Se nós separamos as pessoas, deixamos de ser inclusivos. Pesquisamos casos no Brasil e no mundo e chegamos a este modelo e a este tamanho de sala. Pensamos em inclusão verdadeira, não em exclusão. Qualquer pessoa com sintoma de descontrole pode procurar nossa equipe de atendimento em saúde; acionamos socorristas ou segurança por rádio e, com a casa cheia ou não, em menos de três minutos a pessoa chega ao local rapidamente. Temos ainda ambulatórios estrategicamente localizados no estádio.”

Rubens Neves destaca o papel da Funcap na criação de um ambiente que acolha a diversidade e amplie o sentido social do futebol © CRP-PR
O acesso é amplo: bebês, crianças, jovens, adultos e idosos com sensibilidade sensorial podem utilizar o espaço. “Recebemos todas as pessoas buscando acalmar e melhorar, conforme o nível da crise. De acordo com cada quadro, orientamos a saída gradual do espaço. Nosso propósito é a regulação para que a pessoa se recupere e retorne ao seu assento — é assim que cumprimos a proposta de inclusão”, explicou Rubens.
A Sala Multissensorial oferece kits com abafadores de som, óculos para sensibilidade visual e outros recursos de acessibilidade, além de dispositivo de reconhecimento de gestos para interações não verbais durante as atividades.

A psicóloga Isabela Gasparin Escorsim traduz, por meio de sua escuta atenta, a presença da Psicologia como mediadora entre emoção, cuidado e bem-estar © CRP-PR
A psicóloga Isabela Escorsim, da Clínica Rama, informou que está em andamento um plano para ampliar a aplicabilidade do espaço, hoje utilizado uma ou duas vezes por semana.
“Queremos socializar mais o uso da sala. Além da Psicologia e dos recursos de acompanhamento, contamos com equipe de Terapia Ocupacional (TO) e fonoaudiólogas — é uma equipe multiprofissional que também atua durante jogos e espetáculos”, detalhou.

Thiago Escorsim relembra experiências que revelam o poder transformador do acolhimento: crianças que encontraram, na Sala Multissensorial, equilíbrio emocional e pertencimento © CRP-PR
Carla Slongo destacou o mérito da otimização do espaço pela Funcap. “Otimizar um espaço com estrutura tão qualificada durante a semana é extraordinário. A sala deixa de ser apenas um recurso em dia de jogos e shows e passa a servir a cidade. Eu aplaudo essa visão porque otimiza espaço, tempo e estrutura — e vira referência para outros ambientes públicos.”
Thiago Escorsim relatou episódios marcantes com crianças que jamais haviam frequentado um espaço do porte da Arena da Baixada em dias de jogos importantes. Ao vivenciar a sala, conseguiram se regular e retornar ao convívio, evidenciando acolhimento real e acessibilidade efetiva para as famílias.

Carla Slongo reforça que inclusão é prática contínua — palavras sem ação não mudam realidades © CRP-PR
Ao conhecer a Sala Multissensorial do Athletico, o CRP-PR reforça seu compromisso de aproximação com experiências sociais de acolhimento fora do campo clínico, reconhecendo boas práticas que dialogam diretamente com a saúde emocional, a cidadania e a inclusão. Este registro integra a agenda da nova gestão do Conselho de valorizar e inspirar soluções semelhantes em espaços de grande circulação, fortalecendo o direito de participação e a dignidade das pessoas neurodivergentes.

Na foto que marca o fechamento do encontro — momento que consolida a aproximação do CRP-PR com a vida pública — estão Isabela Gasparin Escorsim, Thiago Escorsim, Lara Frasson, Luiz Alberto Kuster, Carla Slongo e Rubens Neves © CRP-PR
As visitas às arenas consolidam a proposta da atual gestão de aproximar a Psicologia da vida pública, reconhecendo práticas de acolhimento que geram participação social. Na avaliação de Carla Slongo, o objetivo foi conhecer a fundo os dois modelos, multiplicar boas ideias e verificar se cumprem funções sociais reais e são replicáveis.
“A conclusão é positiva: são caminhos distintos e igualmente válidos — no Coritiba, um espaço que permite a vivência coletiva do jogo com apoio a crianças e adultos com TEA; no Athletico, uma proposta de regulação sensorial que favorece o retorno ao convívio. Caminhos diferentes, a mesma ética: respeitar as singularidades”, resume. Para a psicóloga, quando a Psicologia ultrapassa os gabinetes e encontra a cidade, nasce política pública de acolhimento.
“A inclusão precisa acontecer na prática, não só em datas de conscientização.”
Na mesma direção, Carla defende que o CRP-PR estreite laços com quem se arrisca a inovar, reconhecendo, conectando e inspirando iniciativas já em curso, e somando a projetos sociais com empresas, prefeituras, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Câmaras Municipais e terceiro setor.
“A acessibilidade sensorial não é luxo; é direito de participação”, afirma. “A gestão atual se declara de portas abertas a parcerias e à criação de um Grupo de Trabalho (GT) com diferentes segmentos da sociedade, para qualificar ambientes de grande circulação e promover inclusão sensorial e emocional.”
O recado final é direto: “Inclusão precisa acontecer na prática e não apenas em datas de conscientização, e falar sem agir não transforma realidades. O que se viu nos dois espaços demonstra que é possível acolher, adaptar, regular e devolver a pessoa ao convívio — caminho que o Conselho deseja visibilizar e multiplicar.”
10 de outubro de 2025
07 de outubro de 2025
01 de outubro de 2025