19 de novembro de 2024
Campeões do vôlei mostram Importância do Profissional de Educação Física
Na quarta semana de palestras promovidas pelo CREF9/PR estrelas do vôlei de praia mostraram como os PEFs influíram em suas carreiras.
Por Paulo Pinto e Bárbara Lemos / Global Sports
28 de setembro de 2023 / Curitiba (PR)
O Conselho Regional de Educação Física do Estado do Paraná (CREF9/PR) realizou no sábado (23/09) mais uma sessão comemorativa do mês do Profissional de Educação Física com a realização de duas palestras em sua sede de Curitiba, ambas transmitidas online no canal do YouTube da entidade. Para falar sobre a importância do Profissional de Educação Física no esporte foram convidados dois astros do vôlei: Clésio Prado e o campeão olímpico e mundial Emanuel Rego.
Clésio Prado (CREF 013686-G/PR), graduado pela Universidade Tuiuti do Paraná e pós-graduado em gestão pública do esporte pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), é diretor de Fomento e Promoção do Esporte na Secretária de Esporte do Paraná, conselheiro do CREF9/PR, membro da Federação Internacional de Esporte Escolar (IFS) e coordenador técnico de voleibol e vôlei de praia na Confederação Brasileira do Desporto Escolar.
Ele começou contando que, como muitos meninos, tomou gosto pelo esporte ainda na escola, estimulado pelo professor de Educação Física. Pretendia jogar futsal no Círculo Militar, mas não havia mais vagas e acabou ficando no vôlei, que praticaria para sempre até a profissionalização. “A gente sempre tem uma relação com uma pessoa fantástica na vida. Para a nossa turma foi o professor Pedro Paulo.”
Depois dessa introdução, Clésio fez uma detalhada descrição de sua carreira, cheia de altos e baixos, tanto nas quadras quanto na areia, marcada por contusões e problemas pessoais, destacando sempre as lições que aprendeu em cada episódio. E como entrou para a vida pública como vice-presidente da Federação Paranaense de Voleibol (2005-2008), ocupando em seguida o cargo de diretor-geral da Secretaria de Esportes de São José dos Pinhais (PR). Nas quadras, Clésio foi vice-campeão da Taça Ouro em 2017, campeão da Superliga e é ex-técnico da equipe profissional do Curitiba Vôlei.
“Todo processo tem um início e precisa ser desenvolvido para que a gente chegue ao final. Para mim, o imediatismo é equivocado. Tudo que se quer de imediato a gente não consegue. É preciso planejar, independentemente do sonho, independentemente do objetivo”, resumiu.
Uma parte particularmente importante da palestra de Clésio foi o histórico da legislação do esporte do Brasil, remontando à época do Estado Novo de Getúlio Vargas e à criação do Conselho Nacional de Esporte em 1941.Outro marco foi a Constituição Federal de 1988, e depois dela vieram a Lei Pelé, a regulação da profissão de Educação Física e a criação dos conselhos federal e estaduais de Educação Física. “A regulamentação é extremamente importante, principalmente porque as pessoas muitas vezes não têm acesso a informação alguma.”
Para Clésio, o ano de 2001 foi um divisor de águas no que se refere a orçamento e a investimentos no esporte, com a criação da Lei Agnelo/Piva (proposta pelo senador Pedro Piva e pelo então deputado Federal e Agnelo Queiroz) que destinou 2% da arrecadação das loterias federais para os comitês olímpico (COB) e paraolímpico (CPB) do Brasil.
Em seguida ele fez uma detalhada análise da distribuição desses recursos aos diversos organismos esportivos e aos Estados, demonstrando que, ao final, a parcela de cada um mostra-se insuficiente.
“É claro que eu falo pelo Paraná. Aqui não passamos de R$ 11 milhões para o governo inteiro trabalhar”, afirmou, relatando em seguida as expectativas quanto à nova legislação que está para ser aprovada definindo o destino do dinheiro arrecadado com a taxação das casas de apostas esportivas.
“O sistema nacional de esporte brasileiro não é apenas um conjunto de regras e competições, é uma força transformadora que molda indivíduos e inspira sonhos, tocando profundamente a vida de todos aqueles que o abraçam, impulsionando o País rumo a um futuro de excelência e superação”, prosseguiu Clésio.
“Para mim, o imediatismo é equivocado. Tudo que se quer de imediato a gente não consegue. É preciso planejar, independentemente do sonho, independentemente do objetivo”
Segundo ele há 275 projetos em andamento no Paraná em todas as manifestações, inclusive de excelência esportiva, e cada um deles deve ter um responsável técnico, ou seja, um Profissional de Educação Física. “Então, há mercado de trabalho. A perspectiva que é o número de projetos chegue a 500 a partir de 2024. A gente precisa despertar interesse pela formação acadêmica e fazer com que as universidades tenham essa informação e criem programas dentro da personalidade do Profissional de Educação Física.”
Em 12 anos, o programa Bolsa Técnico do Paraná já contemplou mais de 2 mil bolsistas e já está sendo copiado em outros três Estados. “Esperamos que em breve seja criada a Bolsa Técnico nacional, a exemplo da Bolsa Atleta”, afirmou Clésio, recomendando aos profissionais que busquem mais informações.
“Eu queria também destacar a importância de um conselho ativo, organizado, que busque o melhor para os profissionais. O CREF9/PR hoje é uma referência em gestão e apoio às federações esportivas na capacitação de profissionais”, concluiu.
Reconhecimento de um multicampeão
“Os professores de Educação Física foram fundamentais em toda a minha carreira, desde o início. Passei pela fase da escola, dos clubes, e cheguei ao alto rendimento, mas queria parabenizar também o presidente do CREF9/PR, Gustavo Brandão, por promover estas palestras, quando podemos trocar ideias e mostrar a importância do Profissional de Educação Física para cada um de nós.”
Estas foram as primeiras palavras de Emanuel Fernando Scheffer Rego, astro do vôlei de praia brasileiro que esteve presente em cinco edições dos Jogos Olímpicos, conquistando ouro em Atenas 2004, bronze em Pequim 2008 e prata em Londres 2012. Dez vezes campeão do Circuito Mundial e oito vezes do Circuito Brasileiro, venceu o Campeonato Mundial em três temporadas e é o jogador com mais títulos na história da modalidade: 155 no total.
Para ele, o atleta sempre tem de acreditar no sucesso final de tudo que faz. “Se começa a treinar, tem de acreditar que vai ser um medalhista. Foi o meu caso. Eu queria ser igual àqueles medalhistas, ser um atleta olímpico. Esse foi o meu modelo.”
Emanuel entende que para o Profissional de Educação Física há outras maneiras também de chegar ao esporte. Uma delas é quando a criança é trazida pelos pais com a recomendação médica de praticar esporte, por causa da saúde. Outra é a motivação da comunidade. Todo jovem tem um grupo de amigos com interesses semelhantes. “Eu gostava de correr, de jogar futebol, mas o grupo que estudou comigo no Colégio Medianeira, aqui em Curitiba, gostava de jogar vôlei e todos treinavam com um professor muito bom, o Pedrão. Então, motivado por meus amigos, comecei a jogar vôlei.”
O Profissional da Educação Física da época, o Pedrão, também incutiu no grupo a ideia da competição, mesmo que para ele o esporte fosse uma diversão entre amigos. “Com 12 anos ninguém pensava em ganhar medalhas, queríamos apenas nos divertir. Mas a provocação do Pedrão mudou nosso pensamento. E a competição tornou-se muito importante.”
Quando chegou ao vôlei de praia, Emanuel foi jogar com atletas em geral dez anos mais velhos do que ele, que estava com 19. Os que tinham 29 ou 30 anos jogavam muito bem e eram fortes. “Pensei: se eu ficar uns 20 anos jogando com esses atletas, eles vão se aposentar e eu vou continuar jogando. Ou seja, tinha de me preparar para jogar o máximo de tempo possível.”
Emanuel percebeu também que teria de treinar mais do que os companheiros. “Não sou o mais forte, não sou o mais alto, não sou o mais rápido. Tenho de buscar outras ferramentas para ser um ótimo jogador.”
Uma das coisas que Emanuel decidiu foi criar uma rotina que lhe permitisse descansar mais para se recuperar melhor. “Essa foi a minha escolha na vida, uma escolha para jogar muito e ter longevidade. Por isso, joguei 25 anos. Não tenho nenhuma lesão crônica. Se eu quiser jogar vôlei com meus amigos, ainda posso.”
Emanuel aprendeu ainda que a alimentação é um combustível, o papel dos carboidratos, das proteínas, a importância dos horários e da ingestão de água, além do valor do sono. “Quanto chego no self-service, eu escolho o que preciso para me manter.”
“Fui um menino que com a ajuda dos Profissionais de Educação Física, conseguiu ser campeão olímpico, tricampeão mundial e decacampeão brasileiro.”
Quando alcançou o nível olímpico, Emanuel recorreu a profissionais específicos em algumas áreas, muitos deles da fisiologia, que faz parte da Educação Física. “O Profissional de Educação Física precisa ter essa competência. Na fisiologia, trabalhei com o Paulo Figueiredo, professor na UFRJ que na época era fisiologista do Clube de Regatas Flamengo. Ele me ajudou a entender, dentro da minha idade, o que eu precisaria treinar ou não. Na carreira de atleta, a gente tem de entender que, conforme o tempo vai passando, precisa treinar de forma mais específica. Agradeço muito ao Paulo Figueiredo por ter me ajudado.”
No começo do vôlei de praia como esporte olímpico não havia nenhum estudo, nenhum artigo científico em que os professores de Educação Física se pudessem apoiar. Era tudo muito empírico. “Hoje”, conta Emanuel, “qualquer dupla trabalha com mais ou menos 12 profissionais. Criou-se um modelo, e eu fico feliz por ter deixado essa parte boa para o vôlei de praia.”
Antes da Olimpíada do Rio de Janeiro Emanuel aposentou-se. “Todos nós temos de estar preparados para adversidades, mudanças. Parei de jogar, e tentei fazer coisas de curto prazo, a primeira delas ser comentarista. Isso ocorreu em duas Olimpíadas: Rio 2016 e Tóquio 2020.”
Ao terminar sua palestra Emanuel fez questão de agradecer a todos os Profissionais de Educação Física, que podem fazer a diferença na vida das pessoas. “A minha é um exemplo. Fui um menino que com a ajuda dos Profissionais de Educação Física, conseguiu ser campeão olímpico, campeão mundial três vezes, campeão brasileiro dez vezes, e que hoje procura dar oportunidade às pessoas. Porque o esporte é uma importante ferramenta de transformação.”