A percepção subjetiva de esforço é uma variável realmente útil e precisa?

A escala de PSE de Borg é muito famosa e utilizada em diversos tipos de atividades © Boggy22 / Depositphotos

A escala de PSE pode ser utilizada em diferentes modalidades de exercícios para controle da carga interna, e apresenta baixo custo e grande facilidade de compreensão.

Por Ricardo Souza / Brief Effort Club
28 de março de 2024 / Curitiba (PR)

Um dos maiores desafios para quem prescreve exercícios físicos é realizar um controle adequado de quão desafiadora é a atividade recomendada. Chamamos isso de carga interna, e ela reflete o grau de dificuldade (intensidade) para a realização daquele exercício, daquele modo e com aquela duração.

Sabemos que isso pode ser medido a partir de informações fisiológicas, que se alteram de forma proporcional à dificuldade. Alguns bons exemplos de variáveis fisiológicas diretamente ligadas à carga interna são o aumento da frequência cardíaca e o aumento da concentração de lactato no sangue.

Enquanto o aumento da frequência reflete um parâmetro de esforço mais central (cardiovascular), o aumento da concentração de lactato sanguíneo reflete parcialmente o esforço muscular, especialmente o volume e a velocidade com que o carboidrato (glicogênio) é consumido durante o esforço.

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Sabemos que nenhum parâmetro fisiológico, observado de forma isolada, é capaz de fornecer todas as informações necessárias sobre o impacto do exercício sobre o organismo, mas essas variáveis aqui citadas são muito bem estudas, compreendidas e úteis para o controle da carga interna. Mas há um porém: não são das coisas mais fáceis de serem acessadas.

A facilidade do uso da percepção subjetiva de esforço

Por mais que os equipamentos para medição da frequência cardíaca se tenham popularizado e hoje seja possível adquirir frequencímetros com valores inferiores a R$100,00, ainda são equipamentos pouco acessíveis, pois os de custo mais baixo muitas vezes são imprecisos, o que acaba não resolvendo o problema.

Além disso, em atividades coletivas, nas quais várias pessoas se exercitam ao mesmo tempo, seria necessário um equipamento para cada indivíduo, o que pode ser bastante difícil de conseguir.

Sobre o lactato, então, a situação fica ainda mais complicada, já que são necessários analisadores e reagentes para controlar a modificação da substância na corrente sanguínea, além de ser um procedimento invasivo, que exige a retirada de pelo menos uma gota de sangue do indivíduo, o que pode inviabilizar completamente o processo.

Pensando nisso, o fisiologista sueco Gunnar Borg desenvolveu em 1974 uma escala que permitia um controle fácil e rápido da carga interna a partir da percepção subjetiva de esforço (PSE) que o indivíduo relatava. Inicialmente, ele usou como referência limites de frequência cardíaca como parâmetros para a construção da escala. Assim ela começava em 6 (referente à frequência cardíaca de repouso de 60bpm) e tinha como valor máximo 20 (referente a uma frequência máxima teórica de 200bpm). Tempos depois, para facilitar o entendimento por parte do usuário, ela foi ajustada para ir de 1 a 10 e associada a diferentes recursos visuais.

Taxa de esforço percebido – Escala RPE

Mas será que ela é precisa?

A escala de PSE de Borg é muito famosa e utilizada em diversos tipos de atividades, sejam elas aeróbicas ou anaeróbicas, cíclicas (como correr e pedalar) ou de força, como a musculação. Mas a pergunta que fica é: até que ponto ela é realmente precisa?

Foi essa a pergunta que Morishita e colaboradores (2019) fizeram ao adotar tal tipo de parâmetro para controlar o treinamento com pesos em pessoas idosas. Os autores perceberam que tal instrumento era bastante útil e preciso na determinação das cargas de treino desses indivíduos, e destacaram que ele também era de fácil compreensão e aplicação, mesmo num público com menor intimidade com a prática de atividades físicas.

Scherr e colaboradores (2013) testaram o uso de tal escala em atividades aeróbicas realizadas na esteira e em bicicletas ergométricas. Além disso, compararam os parâmetros fisiológicos descritos acima (FC e lactato) com os resultados da PSE. Os autores relataram uma associação muito forte entre todos esses indicadores, com a PSE tendo forte correlação com a FC (r=0,74, p<0,001) e com a concentração de lactato (r=0,83, p<0,001). Especificamente sobre o lactato, verificou-se que o primeiro e segundo limiares estavam fortemente relacionados a valores de PSE ao redor de 10,8 e 13,6, respectivamente.

Sendo assim, é possível afirmar que a escala de PSE é um instrumento bastante preciso, que pode ser utilizado em diferentes modalidades de exercícios para controle da carga interna, e apresenta baixo custo e grande facilidade de compreensão pelo indivíduo.