19 de novembro de 2024
A Educação Física precisa focar no compromisso com a saúde pública e individual
Em carta aberta aos profissionais de Educação Física e ao sistema CONFEF/CREFs, os professores Drigo e Pitanga sugerem foco total na saúde
Por Dr. Alexandre Janotta Drigo e Dr. Francisco José Gondim Pitanga
4 de fevereiro de 2021 / Curitiba (PR)
O texto, em formato de artigo de opinião, busca discutir a identificação e a forma de solução dos desafios relacionados à pandemia da covid-19, no que tange à área da Educação Física. Reafirma a importância da atividade física e busca clarear os caminhos para que o campo profissional possa atuar de forma mais evidente em relação ao poder público e à sociedade.
Durante os dias que se apresentam, temos verificado várias manifestações perante a pandemia do novo coronavírus (covid-19), algumas recomendando a suspensão das atividades e o fechamento de academias de fitness e esporte e outras contrárias a essas medidas. O confronto de posições contribui ainda mais para as disputas dualistas que se apresentam no nosso País.
Precisamos, diante da gravidade do momento – seja em relação à infectologia ou a questões econômicas –, reafirmar e reforçar a Educação Física enquanto profissão da área da saúde. Aceitando este fato, devemos reconhecer que o problema decorre de uma infecção viral que tem como principal vetor o ser humano. Neste sentido, os protocolos de biossegurança adotados por vários governos tendem a reduzir ou bloquear o contato entre pessoas, pois, obviamente, sem a circulação do vetor de transmissão o vírus seria impedido de reproduzir-se e acabaria desaparecendo ou se tornando raro com o tempo. Infelizmente, o mundo todo apresentou, exceto em países mais disciplinados, problemas relacionados às medidas de restrições de contato.
Pautado na informação inicial e para não alongar muito o texto, defendemos três atitudes iniciais e emergenciais para a área, todas entrelaçadas, quais sejam:
- Mudança no comportamento profissional. É hora de reforçar e colocar o foco no compromisso com a saúde pública e individual. Alguns discursos que podem contaminar a importância da atividade física para o desafio imposto pela covid-19 necessitam ser revistos e abandonados, principalmente neste momento. Sendo assim, referências a aparência, corpo perfeito e emagrecimento voltado para a estética devem ser evitadas, para que o foco permaneça exclusivamente na saúde.
- Cuidado com o comportamento nas redes sociais. Neste momento de preocupação com nossa atuação por parte do poder público, observamos registros de profissionais em redes sociais muito negativos. Desta forma, para exemplificar a Educação Física, os procedimentos de biossegurança devem ser seguidos e, portanto, não deve haver nenhuma foto ou filmagem que registre desacordo com os protocolos exigidos pela área ou poder público. Assim, não serão mostradas aglomerações nas academias, praticantes sem máscaras, sem vestimentas adequadas ou com pouca roupa, funcionários sem proteção ou abraços entre profissionais e/ou praticantes. Não devem ser divulgados exercícios de intensidade inadequada à promoção de saúde ou atividades não próprias do profissional de Educação Física, como dietas e tratamentos medicamentosos, lutas que não contemplem as restrições da fase adotada no município, sem o distanciamento necessário. Por fim, não se deve propagar fake news, principalmente relacionadas à área da saúde ou temas como vacinas e vacinação.
- Quanto à gestão, sugerimos ao Sistema CONFEF/CREFs e outras entidades relacionadas com o poder público e de saúde a aprovação de resoluções, diretrizes e legislações que, de forma rápida, atendam às necessidades da população, de acordo com as condições dos beneficiários e grupos, relacionadas às práticas de atividade física para manutenção da saúde e preservação da vida. Neste sentido consideramos que, inicialmente, devem ser definidas com precisão as intervenções do profissional de Educação Física para saúde em relação a atividades de prestação de serviços de características de emergência, urgência ou rotina.
Conquanto esta discussão necessite de aprimoramento, com participação de outros especialistas que melhorem a identificação proposta, a iniciamos com os seguintes considerandos tipológicos:
- Emergência em atendimento de profissionais de Educação Física relacionam-se aos procedimentos necessários e que podem comprometer a vida do paciente. São os casos de atividades em conjunto com a área médica e que dizem respeito à manutenção ou ao início de atividade física aplicados a pessoas com cardiopatias, com câncer e em situação de pré e pós-operatório de cirurgias diversas.
- Urgência em atendimento de profissionais de Educação Física são intervenções relacionadas aos procedimentos que evitem prejuízo à saúde caso não haja manutenção da atividade física, e que possam comprometer em curto prazo a vida do paciente. São os casos de atividades em conjunto com a área médica destinadas à manutenção ou ao início de atividade física aplicada a doenças crônico-degenerativas, incluindo diabetes, dores crônicas relacionadas ao sistema musculoesquelético, obesidade mórbida, hiperatividade infantil e crianças com diagnósticos de sofrimento psiquiátrico, distúrbios psiquiátricos de jovens e adultos e idosos com degenerações severas.
- Rotina são atividades com baixa ou nenhuma prioridade relacionada à saúde ou indicação médica e aquelas que não são originadas por tratamentos em geral, como as referentes à estética.
Desta forma, consideramos a necessidade de tornar mais claro para a sociedade o papel da prática da atividade física orientada por profissional de Educação Física e, desta forma, desencadear as prioridades de atendimento e atenção que devem existir em relação aos ambientes de academia e de prática, orientadas pela questão da saúde pública e individual. Isso vai possibilitar uma nova leitura e adequação às atividades, fazendo notar que tais práticas devem ser estimuladas pelo Sistema CONFEF/CREFs, universidades e cursos de Educação Física, sindicatos e entidades de saúde pública, a fim de possibilizar melhor organização e eficácia em face da pandemia, assim como a aprovação de leis em diversas instâncias – municipal, estadual e federal –, a fim de garantir a prática de atividade física e o atendimento pelo profissional de Educação Física.
Esperamos que as ideias expressas neste artigo estimulem discussão e ações que contribuam para sociedade e para os profissionais de Educação Física.
Alexandre Janotta Drigo é bacharel em biologia e educação física (EF); mestre em ciências da motricidade pela Unesp/RC; doutor em EF pela Unicamp e orientador da pós-graduação em ciências da motricidade da Unesp. Pesquisa formação profissional em EF, atividade física e saúde, lutas e metodologia do treinamento.
Membro do Conselho Federal de Educação Física, tem 70 artigos científicos publicados no Brasil e no exterior, dez livros e 22 capítulos, entre outras produções.
É coordenador da comissão científica da FPJudô.Francisco José Gondim Pitanga Possui graduação em Educação Física, mestrado em Ciência do Movimento Humano, doutorado em Saúde Coletiva e pós-doutorado é docente do programa de pós-graduação em Ciências da Reabilitação do Instituto de Ciências da Saúde da UFBA, presidente do DEFIC-SBC/BA – Departamento de Educação Física da Sociedade Brasileira de Cardiologia, regional Bahia. Tem 81 artigos científicos publicados no Brasil e no exterior, 14 livros e 8 capítulos, entre outras produções.