A deformação midiática da imagem do treinador esportivo nos Jogos Olímpicos

Mídia e esporte ajudam-se pela divulgação das atividades esportivas e pela responsabilidade das maiores audiências registradas pelos veículos midiáticos © Xuan Nguyen

Pesquisa mostra também que o Brasil é um país com pouco investimento na formação profissionalizante de treinadores e na pesquisa científica relacionada ao esporte

Por Helena Sbrissia / Budopress
18 de junho de 2021 / Curitiba (PR)

A mídia tem um papel fundamental na divulgação do esporte – e, ao destacar isso, vale lembrar que não somente sua prática está envolvida nesse discurso, mas também todos os atores e elementos esportivos. Segundo Sanfelice (2010), um exemplo dessa influência aparece no Campeonato Brasileiro de Futebol, influenciado economicamente pela cobertura dele pelos veículos midiáticos.

Mídia e esporte ajudam-se intrinsecamente, de um lado pela divulgação das atividades esportivas e do outro, pela responsabilidade das maiores audiências registradas pelos veículos midiáticos. Os meios de comunicação, portanto, funcionam como multiplicadores mercadológicos do esporte, considerando-se que, para conquistar legitimidade social, um esporte precisa ganhar visibilidade.

É partindo desta premissa que o debate se abre para a representação midiática que os treinadores desportivos têm. José Alfredo Olívio Júnior, João Paulo Costa de Carli, Bruno Bohm Pasqualoto, Arthur Sales Pinto, Cláudio Silvério da Silva, Andreia Cristina Metzner e Alexandre Janotta Drigo realizaram um estudo denominado A percepção da mídia brasileira sobre os treinadores olímpicos: análise das olimpíadas de 2016, publicado pela Revista Brasileira de Educação Física Saúde e Desempenho (Rebesde).

De acordo com os autores, o trabalho desses profissionais é avaliado constantemente pela mídia, abrindo margem para uma medição da credibilidade e do prestígio. Diversos estudos já foram realizados sobre os efeitos disso em treinadores de times de futebol, mostrando uma abordagem referente a competência, articulação tática e técnica das equipes treinadas.

A análise feita no estudo fez chegar à conclusão de que o treinador é tratado meramente como coadjuvante em performances esportivas © Rinke Dohmen

Desta ótica, o estudo pauta o conhecimento prévio da influência da mídia em profissionais do ramo, passando a analisar como isso se aplica aos treinadores esportivos brasileiros que trabalharam nos Jogos Olímpicos de 2016. Por meio do recorte de fontes midiáticas digitais, os autores estabeleceram os critérios para analisar competência e profissionalismo, interação pessoal e características pessoais.

A análise feita no estudo fez chegar à conclusão de que o treinador é tratado meramente como coadjuvante em performances esportivas. Mais do que isso, ainda, que há a tendência de culpabilizar sua figura quando os resultados são negativos. De acordo com os autores, essa padronização da mídia ocorre por conta da “futebolização” da maioria dos esportes na esfera nacional, geralmente porque os grupos de gestão, comentaristas, repórteres e locutores são os mesmos.

Outra conclusão tomada pelo grupo de pesquisadores é que o jornalismo tem a tendência de deslegitimar a capacidade profissional dos treinadores esportivos, muitas vezes colocando esforços artesanais em frente aos relacionados à profissionalização. Isso acaba por reforçar um caráter superficial, valorizando os eventos – sejam eles vitórias ou derrotas – e ignorando os esforços tomados para chegar a eles.

Os autores destacam, ainda, que um sinal de alerta deve ser acendido em relação à maneira como o Brasil trata o esporte, pois, diferente de nações consideradas pilares da prática, o investimento na formação de treinadores e a pesquisa científica relacionada ao assunto é mínimo, sendo ambas áreas que recebem pouco recurso para se desenvolver.

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