01 de dezembro de 2025
Lara Frasson apresenta Olívia, obra que celebra empatia, acolhimento e a força das vivências autistas © Global Sports
Nascida em 12 de agosto de 1998, em Campinas (SP), a psicóloga Lara Frasson, que também é autista, construiu uma trajetória marcada por estudo, sensibilidade e compromisso institucional. Formada em Psicologia pela Universidade Positivo em 2020, ela hoje ocupa um papel de forte representatividade no Conselho Regional de Psicologia do Paraná, onde integra a Comissão de Comunicação Social e coordena o Núcleo de Neurodivergência — espaço técnico que articula pesquisa, debate ético e produção de conhecimento qualificado sobre o tema. Além disso, atua como supervisora da Comissão de Desenvolvimento Atípico da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC), contribuindo para o avanço das discussões científicas em âmbito nacional.

O editor André Greca celebra o lançamento e destaca o impacto social e formativo da obra © Global Sports
O lançamento de Olívia – Um livro sobre autismo e empatia transformou a Livraria da Vila, no Shopping Pátio Batel, em palco de uma celebração inédita e profundamente simbólica. A noite de autógrafos reuniu centenas de pessoas e marcou não apenas a chegada do livro às prateleiras, mas a comemoração de um feito grandioso: a produção coletiva de uma obra infantil dedicada às crianças neurodivergentes, escrita por 20 especialistas de diferentes regiões do país.

Autores celebram o lançamento de Olívia, obra construída de forma coletiva, interdisciplinar e profundamente humana © Global Sports
Familiares, profissionais da Psicologia, educadores, estudantes e representantes da saúde compuseram um público vibrante e diverso, que lotou a aconchegante loja da Avenida do Batel. O encontro — afetivo, acolhedor e intelectualmente pulsante — destacou a força da iniciativa liderada por Lara Frasson. Com edição da Editora Lado A e curadoria editorial de André Greca, o projeto ganhou vida em uma noite marcada pela emoção, pelos diálogos sensíveis e pela sensação coletiva de conquista.
“Empatia e vínculo são a base de qualquer intervenção.”
Enquanto Lara e os demais autores dedicavam exemplares e compartilhavam bastidores criativos, os visitantes conheciam a história de Olívia, personagem criada para quebrar estigmas, inspirar empatia e ampliar a compreensão social sobre o TEA. Crianças se encantaram com as rimas; profissionais destacaram o potencial pedagógico e clínico; familiares encontraram ali um espaço de pertencimento raro e necessário.

Lara Frasson com um pequeno leitor, simbolizando a razão maior da obra © Global Sports
Foi mais que um lançamento: foi o reconhecimento público de uma realização histórica — uma obra construída sob o signo da interdisciplinaridade, do respeito às diferenças e do compromisso ético de transformar realidades. Ao final da noite, a sensação era unânime: Olívia já havia cumprido seu primeiro e mais importante papel — tocar pessoas, abrir caminhos e fortalecer uma nova cultura de acolhimento.

Lara Frasson autografa exemplares de Olívia e compartilha histórias que emocionaram leitores de todas as idades © Global Sports
A construção do livro parte da Análise do Comportamento — “a ciência com maior evidência para a intervenção com TEA”, como explica Lara —, mas a obra não se ancora apenas no rigor técnico. O eixo central é a vivência, o encontro humano, a capacidade de estabelecer vínculos reais. Na leitura da organizadora, a força do livro está justamente na empatia que atravessa a narrativa e que dialoga com qualquer profissional, independentemente de sua abordagem teórica. “Empatia e vínculo são a base de qualquer intervenção”, afirma.

O psiquiatra Cleverson Higa Kaio, coautor da obra, homenageia Lara Frasson por sua sensibilidade e contribuição essencial ao projeto © Global Sports
Segundo Lara, Olívia nasce com um propósito claro: quebrar estigmas. A narrativa convida profissionais e leitores a ultrapassarem a lente biomédica tradicional para enxergar a pessoa autista em sua inteireza — alguém que sente, pensa, constrói e vive com subjetividade plena. Ela reforça que diferenças sensoriais ou de interesse não diminuem nem invalidam a experiência autista; são vivências “reais e dignas como as de qualquer outra pessoa”.

Crianças conhecem a personagem Olívia e descobrem, nas rimas, um convite leve e acolhedor à empatia © Global Sports
Ao abordar a participação dos vinte especialistas envolvidos, Lara recorda que o autismo é um espectro — cada pessoa autista tem características singulares. Por isso, nenhuma intervenção isolada dá conta da complexidade do cuidado. A verdadeira qualificação surge quando saberes se articulam em torno de um objetivo único: melhorar a vida de quem busca apoio.
Ela também faz uma crítica ao campo, ainda marcado por disputas de ego e hierarquias profissionais. Em Olívia, buscou mostrar justamente o contrário: inclusão real só existe quando as especialidades deixam de disputar protagonismo e se unem por um propósito genuíno.

Autores brindam o sucesso da obra e celebram a força coletiva que tornou Olívia possível © Global Sports
No debate técnico e ético sobre neurodivergências, Lara enxerga a obra como um convite a mudar o foco. Embora a Análise do Comportamento seja a principal indicação para o atendimento de pessoas autistas, há milhares de indivíduos sem diagnóstico ou em processo de descoberta. Para muitos deles, o sofrimento psicológico é cotidiano.
Nesse cenário, Olívia defende um princípio central: antes do diagnóstico, vem a pessoa. “Eu não tenho que dizer que sou autista para receber um atendimento diferente”, diz Lara. O que ela reivindica — e o que o livro ensina — é o respeito à individualidade e às formas próprias de ser.

A autora recebe leitores de diferentes regiões do Paraná, reforçando o impacto social e formativo do livro © Global Sports
A tradução dos conceitos clínicos para linguagem acessível acontece por meio das ações dos personagens. A escrita em rimas facilita a compreensão, conecta ideias e torna a leitura mais envolvente para crianças — autistas ou não. Essa musicalidade favorece a repetição entre colegas e ajuda a desconstruir, de forma leve, comportamentos vistos como “esquisitos”. Cada página funciona como um modelo de convivência sem estigmas.
“Olívia já cumpriu seu papel: tocar pessoas e abrir caminhos para uma nova cultura de acolhimento.”
Para Lara, Olívia representa um retorno à própria infância, um reencontro com as experiências que moldaram sua trajetória como neurodivergente. Ver o livro ganhar o país é “combustível” para seguir plantando sementes de mudança. O senso de justiça — traço que identifica como marcante entre neurodivergentes — é o motor dessa caminhada.
Ao ver a personagem “quebrando rótulos” e tocando profissionais de todo o Brasil, Lara encontra esperança: a convicção de que a obra pode transformar posturas, ampliar empatia e qualificar intervenções em saúde e educação.

Pais e mães destacam a importância de livros que dialoguem com as vivências reais das crianças autistas © Global Sports
A equipe que dá vida ao livro reflete o espírito interdisciplinar do projeto. Além de Lara Frasson, contribuíram Marina Tissot (Curitiba/PR), Priscila Didone (Birigui/SP), Aline Gomes (Curitiba/PR), Gabrielli da Silva Veroneze Julionel (Pinhais/PR), Karina Kayser (Curitiba/PR), Amanda Betenheuser (Curitiba/PR), Aline Otto (Curitiba/PR), Guilherme Silva Mateus (Curitiba/PR), Cleverson Higa Kaio (Curitiba/PR), Maria Rita Drula do Nascimento (Curitiba/PR), Anabelly Tormes (Brasília/DF), Alessandra Porto Schiessel (Joinville/SC), Rejane Chibior (Curitiba/PR), Letícia da Luz (Paranaguá/PR), Liria Drula (Curitiba/PR), Amanda Parro (Florianópolis/SC), Flavia Gasparini (Curitiba/PR), Carolina Cadenas (Curitiba/PR) e Isabela Cortes (Curitiba/PR).
A publicação ganha forma pelas mãos da Editora Lado A, sob edição de André Lino Greca, responsável pelo projeto gráfico e editorial que transformou Olívia em uma obra acessível, sensível e tecnicamente cuidadosa.
Ao final da conversa, quando lhe pergunto o que Olívia representa em sua vida, Lara respira fundo, sorri e responde com uma lucidez que só quem vive na pele o que escreve é capaz de formular.
“Olívia não é só um livro. É a criança que eu fui, é a voz que eu precisei e não tive, é o espaço seguro que tantas pessoas autistas ainda procuram. Ela é o que eu gostaria que o mundo tivesse me dado quando eu era pequena: compreensão, tempo, acolhimento e alguém que dissesse ‘você não está errada, você é você’.”

Lara comemora pequenas leitoras se conectarem à história de Olívia © Global Sports
A fala vem acompanhada de uma emoção contida, porém firme — típica de quem conhece a dor, mas escolhe transformá-la em potência.
“Eu acredito de verdade que a empatia pode salvar vidas. E, quando digo vidas, não falo só de grandes gestos; falo dessa mudança sutil no olhar, do professor que entende o incômodo sensorial, do profissional que não força contato visual, do colega que aprende a esperar o tempo do outro. Empatia é isso: a coragem de não violentar o ritmo de ninguém.”
Ela faz uma pausa, como quem organiza os próprios afetos, e então completa. “Eu vejo a Olívia chegando nas escolas, nas casas, nos consultórios, e sinto que alguma coisa finalmente se move. Porque, quando uma criança autista se reconhece em um personagem, ela entende que existe lugar para ela no mundo. E quando um adulto lê e se transforma, ela entende que esse mundo pode ficar menos hostil. Esse é o meu sonho.”

Grupo de autores celebra a construção coletiva de Olívia, uma obra que uniu saberes, vivências e compromisso ético em torno da neurodiversidade © Global Sports
Do ponto de vista clínico e ético, a fala de Lara toca em um ponto central das práticas contemporâneas sobre neurodivergência: a urgência de que a sociedade deixe de exigir adaptação unilateral das pessoas autistas e comece, enfim, a se adaptar junto com elas.
Essa inversão — do indivíduo para o coletivo — representa um dos marcos mais importantes da inclusão baseada em evidências.
Antes de se despedir, ela encerra com uma frase que sintetiza a missão do livro e, de certa forma, sua própria jornada: “Se cada leitor sair deste livro entendendo que não existe um jeito certo de ser humano, então a Olívia já cumpriu a missão dela — e eu, a minha também.”
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