Presidente do CONFEF mostra desconhecer atribuições e prerrogativas da profissão

O presidente do Confef, Claudio Augusto Boschi – CREF 000003-G/MG © UNIBH

Entidade divulga vídeo destinado a atletas, mas coloca uma fisioterapeuta para explicar procedimentos que cabem aos Profissionais de Educação Física.

Por Paulo Pinto / Global Sports
3 de abril de 2024 / Curitiba (PR)

Recentemente o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) publicou vídeo intitulado Corra sem lesão, mostrando como um praticante pode completar uma meia maratona sem se machucar. A profissional que transmite as informações, porém, se apresenta como fisioterapeuta especializada em biomecânica, e não como Profissional de Educação Física.

Por se tratar de uma questão delicada, envolvendo a área de saúde, a ProAtiva ouviu um Profissional de Educação Física devidamente capacitado, que realmente pudesse esclarecer a confusão que caiu como bomba sobre o ambiente profissional, armada pelas mentes brilhantes que comandam a Educação Física em nível nacional.

De forma íntegra e absolutamente ética, o professor doutor Vitor Bertoli mostrou que o CONFEF cometeu erro grave ao atribuir aos fisioterapeutas um procedimento que cabe também ao Profissional de Educação Física e aos ótimos profissionais e pesquisas existente no mercado. “A avaliação biomecânica feita no vídeo divulgado pelo CONFEF é uma área dividida entre Profissionais de Educação Física, fisioterapeutas e engenheiros de reabilitação, na qual há diferentes aspectos a serem observados e abordados, pois cada especialidade atua em momentos diferentes.”

Vitor Bertoli é professor da PUC/PR e trabalha com avaliação biomecânica e prescrição de treinamento de força para corredores © Global Sports

Por isso, a iniciativa do presidente do CONFEF, Cláudio Augusto Boschi, e sua assessoria de comunicação configura um triste e infeliz episódio, revelando despreparo acadêmico e desconhecimento das prerrogativas dos profissionais. E pior: mostra que as pessoas que comandam a entidade ignoram as habilidades e capacidades dos PEFs.

Biomecânica

O professor Vitor expôs que a avaliação biomecânica é uma área dividida entre Profissionais de Educação Física e fisioterapeutas, e que ambos bebem dessa grande área base, da qual engenheiros de reabilitação e engenheiros biomédicos também bebem.

“Porém, existem diferentes aspectos a serem divididos pelas áreas. As vezes encontramos Profissionais de Educação Física com interesse maior no desempenho ou nos elementos que o afetam. Será que a fadiga altera os movimentos dos corredores ou de um corredor iniciante? Naquele momento em que ele entrou em fadiga, qual é o movimento que ele faz? Será que esse movimento leva a lesão ou simplesmente altera seu desempenho na prova?”, exemplificou Vitor Bertoli.

“Esses aspectos são importantes e relevantes para entendermos o que ocorre durante o processo, quando avaliamos pessoas que têm interesse em correr. E estas são habilidade desenvolvidas pelos Profissionais de Educação Física, e não por fisioterapeutas.”

Quando surgem esses aspectos multivariados dentro do movimento, as duas áreas acabam atuando. Mas algo muito importante, com o qual os treinadores se preocupam bastante, é saber em que ponto a fadiga se instalou, se ocorreu a alteração do movimento, qual o ponto que deve ser trabalhado no treino.

“Então, quando vamos pensar numa avaliação física, numa opção de avaliação biomecânica de desempenho, temos de levar isso em consideração. Observar aspectos de fadiga e talvez uma avaliação simplesmente no conforto. Esses aspectos são importantes e relevantes para entendermos o que ocorre durante o processo, quando avaliamos pessoas que têm interesse em correr. E estas são habilidade desenvolvidas pelos Profissionais de Educação Física, e não por fisioterapeutas.”

Avaliando um atleta

Para saber como um esportista se movimenta, busca-se inferir como os músculos estão atuando para que um determinado movimento ocorra, detalhou Vitor Bertoli. “Posteriormente isso se junta à área de simulação neuromuscular. Essas duas áreas se combinam e formam o que se tem hoje no uso da inteligência artificial para saber como as pessoas se movimentam, como estão fazendo força e quais são as assimetrias de um lado para o outro do corpo. Essas informações permitem melhorar expressivamente a prescrição de treinos.

“Utilizamos toda esta tecnologia para podermos recomendar treinos da forma mais assertiva possível, visando a chegar o máximo possível ao ideal, ou seja, nem mais e nem menos”, concluiu o especialista.

Perfil

Vitor Bertoli Nascimento, graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná (2003) e doutor em Educação Física pela UEL, acumula larga experiência em treinamento desportivo, análise estatística, biomecânica e controle motor.

Pós-doutor em visão computacional, Vitor Bertoli faz parte da nova geração de Profissionais de Educação Física que utilizam recursos digitais para identificar as articulações do corpo, utilizando apenas uma câmera para analisar os movimentos.

É professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC/PR) e trabalha com avaliação biomecânica e prescrição de treinamento de força para corredores. Na área de pesquisa atua em Sports Scienciy, visando a modelar o desempenho de atletas e jogadores, trabalhando com expoentes das melhores equipes do mundo, fundamentado sempre no tripé pesquisa-ciência-extensão.

Assista AQUI a entrevista com professor doutor Vitor Bertoli.

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